quarta-feira, 29 de julho de 2009

HOMENS E MULHERES QUE AMAM DEMAIS

AOS HOMENS E MULHERES QUE AMAM DEMAIS

DEPENDÊNCIA EMOCIONAL, TIRANIA AUTO INFLIGIDA.


Quando amar significa sofrer, debater-se em criações de problemas estamos amando demais, doentiamente.
"Amar se torna demais quando nosso parceiro é inadequado, desatencioso ou inacessível e, mesmo assim, não conseguimos abandoná-lo." −Robin Norwood−
A dependência emocional se caracteriza por comportamentos submissos, falta de confiança, dificuldade em to-mar decisões, inabilidade para expressar sentimentos e por um temor extremo ao abandono, à solidão e à separação. Incapacidade de dizer NÃO, mesmo sabendo que é o momento apropriado.
È a exteriorização do medo de ficar sozinho. De não bastar-se. Melhor um mau amor que amor nenhum.
É uma tirania que constrói uma prisão interior mediante alianças com o medo, a passividade, a negação da reali-dade e os sentimentos de culpa.
Faz parte do caráter e se nutre de circunstâncias desafortunadas na infância, como todos os nossos comporta-mentos e sentimentos têm sua raiz na infância.
A dependência emocional se manifesta no comportamento afetivo, sexual, profissional e econômico.
O noivado, a lua de mel, “os casais perfeitos” ou as famílias sem problemas são idealizações que não se sustentam por muito tempo. Felizmente, em nossos dias, apesar dos excessos, da descartabilidade,estamos abandonando o amor romântico que é exigente e perfeccionista.
A discussão franca feita com assertividade, pode gerar algum incômodo, mas também traz a verdade dos sentimentos das partes. Calar ou conciliar para não se incomodar, ou por justificativas com: “não vamos estragar bons momentos” é um grande erro. Impede a solução dos problemas. No fundo há um comprometimento com o medo.
A realidade nos demonstra que as famílias mais enfermas são aparentemente perfeitas. As diferenças são tachadas desuperáveis, as discussões são pífias, ou se fala com toda educação e ponderação enquanto por baixo os conflitos rugem. Os sentimentos são secundários, a adequação é mais importante. A realidade torna-se secundária diante das aparências que preservam os laços doentios.
Nessas famílias teatrais são macerados grandes rancores e profundas frustrações.
Na família cuja a prioridade é o campo profissional e que tem dependência emocional, espera-se que forças ex-ternas realizem as mudanças. Estabelece-se a inércia e os objetivos não são alcançados.
A crença dos dependentes baseia-se que toda a mudança desestabiliza o status quo, gerando ansiedade e fragmentação. O que é assustador para os envolvidos, na verdade, repaginar os movimentos da família trará renovação e eliminação de conflitos submersos.
Homens e mulheres dependentes que baseiam suas escolhas de parceiro no socialmente aceitável, politicamente correto, desequilibram-se ao descobrir a mediocridade e a doença por trás da convivência superficial porém emaranhada e enlaçada.
As piores escolhas ocorrem quando baseadas no atrativo físico ou no poder econômico. Cedo ou tarde essas relações se convertem em algo insuportável uma vez que não envolvem sentimentos. O perigo é a tendência de “criar” sentimentos falsos, ou de plástico e crer que são verdadeiros, para isso criam-se grandes emoções também falsas.
Através do medo da liberdade e da solidão se perpetua a dependência emocional e é estabelecido o aprisiona-mento psíquico.
A angústia e/ou depressão exigem tratamento psicológico. O alívio dos sintomas é apenas o começo de um pro-cesso profundo processo de auto-conhecimento, uma vez que a recaída é implícita se não tratada.
A dependência emocional é tão nefasta, ou mais do que a drogadição e alcoolismo devido ao não aparecimento de situações vergonhosas expostas e ao desconhecimento de sua existência enquanto doença.
A PARCERIA, O COMPARTILHAMENTO SÃO DESEJÁVEIS, MAS NÃO OS DEIXEM ANULAR VOCÊ!

quarta-feira, 22 de julho de 2009

A COISA

Tu pensas que poderás dar um gole, um teco, uma fungada... Comprar um cinto, comer um chocolate, jogar uma vez. Matar apenas um.
Engano teu.
Neste mundo nada é feito no singular, tudo é plural, muitas vezes plural. É uma corrente de elos infinitos.
Depois do um, vem o dois, o três... Vêm todos. O primeiro é muito, os outros são poucos. Poderão se engatar pelo resto de tua vida e ela será de desespero.
Mano, isso é uma confissão. Eu senti na pele.
Tu nem te lembras mais como é estar limpo e isso te parece careta, besta, babaca.
Mano, a gente se engana, a gente se troca. A gente vira escroto a serviço, senão virar a mesa.
Estar limpo é ter a vida na mão outra vez. É poder escolher. Podes escolher voltar para a droga de forma controlada, seja lá qual for, mas escorregarás. Não tens domínio sobre ela. Ela tem domínio sobre ti.
Enganas-te também se pensas que não estás preso por que não és usuário de drogas, ou álcool, nem sequer jogas. Se não controlas tuas compras e chegas até a roubar parapossuir, se o computador é teu travesseiro, teu bom dia e tua refeição. Se comer chocolate é tão vital quanto beber água, se não dormes quando não tomas uma boleta, se te arrastas miseravelmente por um amor fodido. E dezenas de coisas mais, tu és um adicto. O bingo, os jogos da Internet, a comida sem limites que cala tua ansiedade. Se achas que podes transar com todo mundo que passar na tua frente e sentires poder ao fazê-lo. Tudo isso, mano é a mesma doença: dependência.
Quando acordares, se conseguires fazer isto, estarás atirado no chão, pano velho descartável. Coisa rota e suja. Por que estarás sujo e, talvez, vomitado, prenhe de vermes.
Os vermes te comem todos os dias, dentro de tua cabeça e fora também, na matéria que te foi dada. Os vermes podem aparecer na parede, no teu corpo e terás medo. Muito medo. Eles ficarão enormes e buscarás, desesperadamente, uma saída.
Todas as portas estarão fechadas, mano. Haverá uma aberta: a recuperação. Sair do lixo, a-bandonar a coisa que te seduz e te humilha.
Mano, sei que precisas disso como o ar que respiras porque te alivia. Te dá o esquecimento.
Esquecer o quê, mano?
Se as coisas não mudam, a menos que tu mudes teu modo de vê-las. São pesadas, bem sei. Porém, não são eternas. Eterna é a coisa que usas para fugir da realidade que não gostas de ver e, pior, de sentir. Enfeias a realidade mais do que ela é.
Depois, mano, tu não sentirás nada e nem saberás por que estás perdido de todos os caminhos e o único caminho aberto é tua alienação. Tu continuarás usando por que ela te pôs num espeto do qual não podes te safar.
A coisa, então, se mostra de verdade, em todo seu negror e seu desespero. A coisa, mano, é isso: desesperança de tudo. Saída sem saída. Beco, tortuosa viela. Desastre aéreo e sucumbível, onde não tens por onde sair. Estás preso, mano. Estás fodido.
É preciso reverter o processo.
Como fazer tal feito?
Tu foste seduzido e a sedução é a pior das armas. Nos engata, nos promete o céu. Vemos o céu. Ilusão, mano, pura ilusão. E dependência mostrará suas garras afiadas. A paixão é difícil de lar-gar, queremos de novo e de novo o que atingimos da primeira vez. Não volta, mano. Jamais voltará. A paixão dá descarga de adrenalina que precisamos porque não agüentamos o tirão da vida. Ficamos dizendo que o nosso foi além da conta a ser paga. Todos dizem, mano.
Houve covardia de encarar. Houve peso e sofrimento que não estava no nosso cardápio. A-creditamos que somos dignos da felicidade. Felicidade... Esta se conquista, mano. Não é dada de graça, precisa de olhos abertos e não da cegueira da droga, do esculhambo que escolhemos. Precisa aceitar que a vida não é justa, isso é invenção dos homens covardes, dos sem fibra para agüentar vi-ver. É história, mano. A vida é conseqüência.
Sabe, mano, o que te conto foi estudado por gente bem mais sábia do que eu. Um deles é Ar-nold Toynbee. Ele diz que quando o ser humano tem pouco desafio, ele não se projeta no mundo. Quando tem muito ele se encolhe.
Pois é, mano, é assim que a gente faz e é. Não somos diferentes do todo, mano. A gente pro-curou atalhos. Quebramos a cara.
Doeu, tu nem te lembra disso? Doeu, mano, podes crer. Doeu prá caralho! Desculpe a má pa-lavra, só ela cabe aqui.
E agora? O que fazer com essa dor, essa experiência que engata cada vez mais gente? O que fazer?
Mano, se unir, se juntar, não em torno da droga que entorpece, como fazíamos, ou como fazes ainda. Precisamos nos unir diante da coragem de ver. Precisamos fazer aquilo que achávamos que fazíamos.
Mano, não mentirei para ti. Estar de cara é pesado como o cão, mas cegos o que podemos fa-zer?
Tenha coragem, mano, vai à luta. Cura-te e vem comigo por que só quem viveu sabe como é a bronca toda.
Vem comigo. Eu preciso de ti, mano. Por nossos manos.
Amo-te.



Vana Comissoli

ADOLESCÊNCIA E AS DROGAS

ADOLESCÊNCIA E ADICÇÃO


DROGAS. Sem

Dra. Analice Gigliotti
Psic: Elizabeth Carneiro
Gisele Aleuia


Baseado em informações do livro acima mencionado. Capítulo referente à adolescência e as drogas:

Adolescer significa adquirir autonomia. Isso é fundamental para a formação de um sentimento de competência e confiança, que, por sua vez, é essencial para uma boa auto estima.
Em plena adolescência, a pessoa sente uma necessidade de viver, experimentar coisas diferentes, sentir o mundo à sua maneira, divergindo muitas vezes do que lhe foi transmitido. Os pais, de uma hora para outra, não sabem mais nada.
Novas experiências, correr riscos antes não vividos _ coisas típicas de qualquer adolescência. Nessa leva está a possibilidade do uso de drogas.
No entanto, há um corte no desenvolvimento da maturidade com a progressão da dependência. Apresenta uma personalidade imatura, dependência de fatores externos, vulnerabilidade. Os relacionamentos que consegue estabelecer são quase todos baseados no consumo de drogas.
Demonstra dificuldade de desenvolver outras formas de divertimento e de descontração. A vida passa a girar em torno da droga.
A droga escraviza o dependente e esse escraviza a família.
Os pais muitas vezes se sentem perdidos e incapacitados de lidar com aquela pessoa que conheciam tão bem e, que agora, se mostra tão diferente. A impotência é o sentimento predominante.
A adolescência traz a necessidade de mudanças no cuidado que a família oferece. Não se pode tratar um adolescente como se trata uma criança. Mas também não se pode tratá-lo como adulto. Ele vive exatamente essa fase de transição – não é uma coisa nem outra.
Ao mesmo tempo em que esse processo traz sentimentos de euforia, pode trazer grandes conflitos.
Os adolescentes já sabem fazer determinadas coisas, mas não sabem outras e têm a tendência de acharem que sabem mais do que na verdade sabem ou sequer vivenciaram.
Se algumas coisas não eram claras nem para os donos da casa, na adolescência isso será posto em xeque. O adolescente questionará tudo, principalmente o que for ambíguo ou inconsistente. Pode ser um momento muito rico para a família, traz a possibilidade de reciclagem, uma atualização.
Os conflitos não trabalhados e não enfrentados podem levar ao uso e abuso de drogas.
O adolescente que se sente amarrado ou culpado por querer respirar outros ares que não os de sua família tende ao uso de drogas como uma tentativa (torta) de separação e de individuação. Ao usar drogas e freqüentar um grupo completamente distinto do seu, é como se estivesse dizendo: “Sou diferente”.
Apesar de demonstrarem clara oposição aos pais, os adolescentes precisam de sua família. Quando se sentem inseguros, frustrados e cansados, precisam ter para onde voltar e pessoas em quem confiar.
Fatores que contribuem para o uso de drogas por adolescentes:
• Uso precoce do álcool;
• Desempenho escolar insatisfatório;
• Antecedentes de eventos estressantes ou traumatizantes;
• Relacionamento ruim com os pais;
• Baixa auto-estima;
• Ausência de normas e regras claras;
• Tolerância do meio às infrações;
• Necessidade de novas experiências e emoções;
• Baixo senso de responsabilidade;
• Pouca religiosidade.
Quanto mais cedo se desenvolve a dependência química, maior a probabilidade de ocorrerem prejuízos cognitivos e emocionais. O uso afeta diretamente a cognição − capacidade de julgamento, humor, relações inter pessoais – podendo comprometer uma adolescência regular.
O álcool e as drogas têm o poder de aumentar ou despertar um comportamento agressivo. Aos poucos o descontrole emocional passa a ser a atuação da pessoa que perde o senso crítico de perceber seu comportamento distorcido. O que ela tenta desesperadamente é manter o uso da substância que a escraviza. Perde a capacidade de questionar. Cria a ilusão de que conhece tudo e já é capaz de administrar a vida sozinho.
Libertar-se de uma droga não é uma questão de força de competência. É uma questão de “saber como” e estar adequadamente aparelhado. Isso inclui psico-terapias e muitas vezes auxílio de tratamento farmacológico.
É comum a adicção ser acompanhadas de comoborbidades que precisam ser tratadas junto com a dependência.
De longe, a droga que mais associa crises psicóticas é a maconha. Essas psicoses podem ser reversíveis com a suspensão da droga. Mas algumas podem levar meses, ou anos, podem desencadear esquizofrenia em que o indivíduo sofre de redução do pragmatismo e embotamento do afeto.
Este artigo, embora use linguagem coloquial e acessível é baseado no estudo de três profissionais especializadas em adicção. Têm elas muita vivência e pesquisa de evidências científicas. Nada do que partilham é “achômetro”. É aquilo que a comunidade científica mundial acredita e comprova.
Se você já se deu conta que sua vida está complicada ou estacionada pelo uso de drogas, procure ajuda antes que ela coma você.
Se tem dúvidas sobre o grau de seu uso, procure ajuda.
Se nega sua dependência, procure ajuda.
Não espere ficar difícil demais.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

TUDO TEM SEU PREÇO


Marion se posta estática diante da vitrine. Os músculos tensos e o coração em ritmo acelerado.
Os objetos expostos, vestidos, acessórios, bijuterias são feitos de neon e faíscam. Alguns cochicham:
− Me leva, me leva. Precisas de mim e estou me sentindo tão sozinho.
Os sapatos caminham e se posicionam abaixo dos vestidos, alguns batem a pontinha da frente com impaciência.
Uma salsa principia a tocar.
As luvas tomam postura de dança. A mão direita segura a manga e a esquerda conduz pelas costas um belo vestido azul anil, numa performance de contos de fadas.
Marion está encantada.
As luzes aumentam de intensidade, se tornam holofotes que giram focando os dançarinos.
A boca da moça saliva e uma ansiedade gigante faz com que estenda os braços até as mãos encontrarem a fria barreira dos vidros.
Entra na loja com o carrinho de bebê da filha trombando aqui e ali.
É um magazine. As ofertas brilhando cores surrealistas.
Passa as mãos nos tecidos, não importa se linho, algodão ou seda. Todos enchem seus dedos de desejo.
Repete para si mesma. Eu preciso, eu preciso.
A angústia aumenta.
Debruça-se sobre o balcão das bijuterias, os brincos, pulseiras, gargantilhas, são ícones diante dos quais se ajoelha.
Êxtase que precisa possuir. As mãos suam.
A filha chora. Ela enfia-lhe a chupeta na boca e embala o carrinho com quase violência.
− Pois não, senhora? Posso ajudá-la?A vendedora é um anúncio de cosméticos e o sorriso uma publicidade da Colgate.
Marion também quer ser alguém identificável, atrair olhares, admiração. Se captar inveja o coração se encherá de orgulho.
Balança os longos e mechados cabelos que escorrem quase até a cintura. Sabe que é bonito, não combina mais com seus trinta anos e coloca-lhe um ar levemente prostituído. Esse descartável detalhe ela não vê. Vê apenas que a olham ao balançá-los.
− Pode ajudar e muito.
Pobre atendente derramará sobre o balcão a mercadoria estrategicamente arrumada na vitrine. Todas serão experimentadas uma a uma numa exibição interminável.
A cabeça de Marion vire e revira diante do espelho que denunciará os brincos mais brilhantes. Aproxima as pulseiras procurando a combinação perfeita. O coração bate Tum Tum strass.
− Todas são perfeitas! Vou levar este com aquela... Estou precisando demais de azul.
Coloca tudo no cesto de compras e segue o cruzeiro sedutor através dos corredores. De vez em quando um suspiro. Começa a acalmar-se no meio das blusas e dos vestidos pendurados. Um calor bom aquecendo o peito e aliviando.
Roça-se pelos tecidos, um sorriso parado. Os olhos não enxergam ninguém, apenas os desejos expostos alinhadamente. O sabor do pecado que acalma. Satisfação.
A filha chora de novo. Fala palavras calmantes para ela:
− Olha querida, que coisas lindas. Mamãe comprará muitos vestidos lindos para ti. Cachuchas e laços.
Oferece a mamadeira. A criança se aquieta.
Suspiro.
Poderá circular na igreja do consumo por mais meia hora sem apelos da filha que aprende.
Escolhe um vestido, duas blusas e um par de sapatos para combinar. Convenhamos: irresistíveis.
Não experimenta nada. Para quê? A melhor parte é reunir tudo no cesto e sentir o poder da aquisição.
À hora do caixa é consequência a driblar.
Abre a carteira e derruba sobre o balcão vários cartões de crédito. Com voz de quem não está nem aí, resolve:
− Vou pagar com cheque. Dão alguns dias?
A moça do caixa responde sorrindo profissionalmente que sim, dão trinta dias.
− Beleza!
Marion fala com aparente displicência. Por dentro a cabeça é uma calculadora decidindo entre os números que levará tudo.
Em casa.
Tira todas as etiquetas e coloca sob todo o lixo junto com as sacolas com a logo da loja. São dedos duros de sua loucura. Em seguida já as despacha na lixeira coletiva.
O marido nunca faz esse trabalho, nada verá. Não há assinatura em lixo. Mas vá que...
Guarda as bijus bem misturadas com as antigas. Homem é tão distraído! Nunca presta atenção em brincos. São uns bobos.
As peças de roupa vão para o fundo do armário, atrás das roupas da próxima estação fora de uso agora.
Põe a filha no berço. Liga a TV. Não acompanha a programação, arquiteta estratagemas para que as compras possam aparecer de forma ingênua. Presente. Doação de amigas. Até isso serve.
Por dois ou três dias está calma. Enfrenta a rotina sem atirar as panelas e faz uma faxina da pesada.
Às vezes pára frente à TV, mas só quando as atrizes aparecem com lindos vestidos assinados por grifes famosas, penteados mechados, dentes novos recém clareados no dentista à custa de bastante dor e dinheiro.
A sensação de preenchimento começa a se desvanecer.
− Ai, o aperto de novo! Não quero sentir. Não quero.
Rabaneia em direção à cozinha. Tem um pote de castanhas quase cheio sobre o balcão. Em pé mesmo começa a roer. Os olhos buscando o Rivrotril. Se tomar o remédio alivia, senão... Viro bicho. Que saco! Sei que não sou louca. É esta vida de merda que me consome.
A filha chora chamando-a.
− Agora não, choro agora não.
Toma uma decisão conclusiva nada definitiva. Igual a ela mesma.
− Vou ao shopping, não... À lojinha da esquina. Tem umas coisas lá que preciso. Muito. Não devia ter parado de fumar. Aliviava. Agora não suporto o gosto. Merda! Ao supermercado não irei. Qualquer lugar que vendam. Eu vou.
Caminha pela casa sem atentar no que faz. Robotizada, coloca roupas na máquina, algumas sem uso. Prepara um almoço à meia boca em meia hora.
Beija o marido, distraída.
− Preciso sair, preciso sair. – Seu pensamento fixo. – só olharei, não comprarei nada.
Está na rua. Empurra o carrinho da filha que sacoleja no descuido do calçamento. A sacola está bem abastecida de balas e bombons tranquilizantes. Daniela aprende.
Todos a conhecem no supermercado vizinho. Um segurança brinca com a menininha e acompanha o vai e vem da mãe com olhos atentos.
Coloca no cesto algumas banalidades: pãezinhos, leite, queijo. No montante que os vales alimentação ainda cobrem.
Na bolsa do carrinho do bebê vão os chocolates, salgadinhos, as castanhas das quais já está enjoada. Comeu dois potes de uma só vez na semana passada.
Na saída é abordada pelo segurança constrangido.
− Dona Marion posso ver suas compras? As que guardou no carrinho da Dani?
O coração estremece, tem uma sensação de desmaio. Agarras-se ao balcão e fecha os olhos.
Abra-se terra e me coma. Demônios dos infernos me busquem. Fui pega.
Explicações mal costuradas. Não cabia no cesto nossa nem percebi é o hábito...
Assina outro cheque, um avião Boeing. Seu banco chama EMBRAER.
A vergonha, o flagra atira-a sobre a cama em choro convulsivo. Reza pedidos silenciosos pela ajuda de todos os santos, em especial Santa Rita de Cássia – a santa dos impossíveis e Santo Expedito – o santo das causas urgentes.
Busca desenfreada por explicações mentirosas e justificativas de pés de barro. O caos, o poço sem fundo.
Durante duas semanas vive o inferno. No entanto, as lembranças são nuvens se esgarçando no céu.
Arruma a filha com esmero, organiza o equipamento de passeio e decora a promessa:
− Vou olhar. Só olhar... Até o mês que vem quando vier o salário. Bem...
Vai trilhando a rua com olhos buscando vitrines. Pára na porta de uma loja de um e noventa e nove.
− Bem isso é baratinho. Preciso tanto dessas cremeiras!

COMPRADORES COMPULSIVOS




O ato de comprar compulsivamente é uma doença, com sintomas específicos, sua patologia e sua recuperação. Ela provoca tantos estragos na psique quanto a drogadição. Causa ansiedade e depressão. Estes sintomas são amainados no ato de comprar, para retornarem em seguida e provocar novas sensações desagradáveis.
Como qualquer outra doença adictiva a compulsão por compras visa aliviar os processos de sofrimento interno sem, no entanto, solucioná-los. Poderíamos cahamá-la de fuga de enfrentamento da dor.
Entenda as formas de interpretar o comportamento típico do comprador compulsivo.

Como identificar um comprador compulsivo?
De um modo geral apresentam uma obsessão por comprar muito mais do que precisam ou do que podem pagar. Muitos compram o mesmo artigo repetidamente pelo simples fato de comprar alguma coisa, sem avaliar se o objeto é ou não importante para seu quotidiano. É comum que nem sequer venham a utilizá-los.

Quais são os sintomas deste comportamento?
Não resistir ao impulso de comprar mesmo gastando acima do seu plano financeiro, assumindo dívidas e prejudicando o orçamento mensal. Com isso prejudicam os planos das pessoas à sua volta. Se for preciso procuram créditos para conseguir pagar suas dívidas Sentem compulsão de comprar o produto no primeiro momento que o vê e têm consciência de que os produtos adquiridos não têm qualquer utilidade para si, mas criam justificativas para acalmar a culpa sobre o ato.
O que origina esse tipo de comportamento?
Cria-se a ilusão de que, por meio dos seus comportamentos compulsivos, controla a forma como lida com os seus sentimentos. A compra compulsiva torna-se uma forma de encontrar um sentido emocional para sua vida. Quando compra, o indivíduo sente-se preenchido.

O comportamento do comprador compulsivo é semelhante ao de algum outro paciente que tenha desvio psicológico?
Como as demais dependências, é um processo lento e progressivo. Passa a depender deste processo para sentir algum conforto na sua vida, e na procura da sua identificação pessoal. A vida transforma-se numa procura do prazer através das compras. O comprador sabe que esta via não lhe traz felicidade, mas não consegue substituto para se sentir melhor consigo mesmo. Esta é uma das características de todos os indivíduos que possuem uma personalidade aditiva

A compra pode ser considerada, nestes casos, um vício?
O processo de comprar de forma patológica tem início com um conjunto de experiências que trazem uma sensação de mudança no estado do humor. No início a pessoa não percebe o problema, apenas sente que quando compra consegue alterar o seu estado de humor.
Ao fazer as compras, o que difere o homem da mulher?
Ao longo dos tempos, as diferenças entre homem e mulher têm diminuído. Era mais comum nas mulheres, mas a ansiedade e streess de nosso tempo tem atingido também os homens. Infelizmente, os homens são mais resistentes a procurar ajuda.

AM: Como saber se estou exagerando na hora de comprar?
Se achar que é muito difícil resistir ao impulso de comprar gastando mais do que aquilo que ganha, e suas dívidas se começarem a acumular, é provável que esteja exagerando nas suas compras. Se acalma sua ansiedade ao comprar e não consegue resistir a um apelo mesmo sabendo que é desnecessário é provável que esteja desenvolvendo a doença.
Se eu perceber que sou um comprador compulsivo, o que devo fazer?
O que deve ser feito em todas as dependências: admitir de uma forma honesta consigo mesmo que tem um problema, que não consegue mais administrar sua vida neste sentido. Em seguida aceitar que a partir do momento em que faz a primeira compra fugindo do planejamento mensal, não parará sem ter comprado coisas que não precisa, iniciando o processo de novo.

Como posso me tratar sozinho?
Iniciando um processo de tratamento desta patologia, o que é extremamente difícil sem a ajuda de um técnico habilitado. Existem relatos de alguns indivíduos que conseguem parar de comprar. No entanto, como não resolveram o problema que está por trás de seu comportamento, mudam de objeto e continuam com comportamento compulsivo noutra área, como sexo, álcool, jogo e até drogas. A doença não é a compra em si, mas a dependência por compulsão.

Que conselhos podem ser dados a um comprador compulsivo?
Procurar desenvolver relação com outras pessoas obtendo a gratificação de sentir que é amado e respeitado pelos outros. Ser carinhoso consigo mesmo e tratar bem de si, alimentando-se de forma saudável, praticando desportos, não cometendo excessos. Estar atento à forma como procura mudar o seu estado de humor. E não começar a esconder ou dissimular aos seus amigos comportamentos que o envergonhem ou o façam sentir desconfortável. A terapia torna-se uma necessidade para aprender os mecanismos que o levaram à dependência e aprender a administrá-los.
Quais são as características que definem um bom comprador?
O bom comprador poderá ser o indivíduo que compra aquilo que necessita para a sua vida no quotidiano, levando em conta o seu orçamento. Depois de fazer as contas mensais, o bom comprador se permite oferecer presentes a si e aos outros dentro de suas possibilidades, sem envergonhar-se de quantidade ou valores.