terça-feira, 29 de janeiro de 2008

NEUROSE


SOU UM NEURÓTICO?


Você permite que suas emoções interfiram no seu comportamento de forma e grau acentuados?


Essa pergunta você pode responder através do seguinte auto-diagnóstico.

01.Você sofre de depressão, angústia, ansiedade, insônia, medo, solidão e outros sintomas torturantes?

02.Você tem medo de estar sozinha, sair de casa, dirigir um carro ou fazer uma viagem fora de sua cidade?

03. Você se sente diferente ou "deslocada" quando está com outras pessoas?

04. Você freqüentemente negligencia seus afazeres, dorme muito, sente-se constantemente cansada ou sem energias?

05. Você já tentou o suicídio ou pensou seriamente em cometê-lo?

06. Você precisa de tranqüilizantes ou outras drogas (que alteram a mente) para atravessar o dia?

07. Você assume mais responsabilidades do que pode? Tem uma atitude de tudo ou nada?

08. Você vive tenso, incapaz de se relaxar e não consegue dormir?

09.A tensão, a ansiedade e a preocupação afetam seu trabalho?

10.Você sente que outras pessoas não o compreendem ou não compreendem os seus problemas?

11. Você sente que as outras pessoas "estão lhe olhando" quando você trabalha ou quando está em público?

12. Você acha que o seu relacionamento está em perigo?

13. Você tem problemas sexuais?

14. Você sente que a vida já não tem "sentido"?

15.Você fica tão irada que chega a perder o controle?


16.Você entra em pânico quando está sob tensão?

17.Você vive chorando?

18.Você se sente"culpada"?

Se você respondeu SIM a qualquer uma das perguntas acima, é possível que você seja uma pessoa com desequilíbrio emocional.

Se você respondeu SIM a duas perguntas, então é quase certo que você seja uma pessoa com desequilíbrio emocional ou mais apropriadamente uma pessoa neurótica.

Para Neuróticos Anônimos, Neurótica é toda pessoa, cujas emoções interfere em seu comportamento de qualquer forma e em qualquer grau segundo ela mesma o reconheça.

Se você realmente reconhece que é uma pessoa neurótica, apresentamos agora a grande pergunta:

VOCÊ QUER AJUDA?

http://www.neuroticosanonimos.org.br/ http://www.cnpsa.embrapa.br/na


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Os grupos de ajuda mútua descobriram que é preciso colocar a recuperação em primeiro lugar.
Além disso é preciso enfrentar durante todo o processo da recuperação três realidades perturbadoras:


1-Que é impotente perante a adicção e que sua vida torna-se incontrolável.

2-Embora não seja o responsável pela sua doença é o responsável pela sua recuperação;

3- Não pode mais culpar pessoas, lugares e coisas por sua adicção.


Permanecer em recuperação significa encarar os seus problemas e sentimentos.
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O mais importante: não se desespere! Você não está sozinho. Somos milhares dispostos a lhe dar a mão.
Busque,
Lute,
Não desista.
E, acima de tudo, CREIA EM VOCÊ.

TABAGISMO


SOU UM ADICTO À NICOTINA?

1-Você fuma todos os dias?

2-Você fuma por sentir-se tímido ou para ganhar auto-confiança?

3-Você fuma para afastar aborrecimentos e preocupações quando está sob pressão?

4-Você já queimou alguma roupa, tapete, móvel ou seu carro?

5-Já lhe aconteceu de ter que sair tarde da noite, ou em algum momento incoveniente, por ter ficado sem cigarros?

6-Você se sente na defensiva ou com raiva quando alguém lhe diz que a fumaça de seu cigarro está incomodando?

7-Algum médico ou dentista já lhe sugeriu que parasse de fumar?

8-Você já prometeu a alguém que iria parar de fumar, e depois quebrou a promessa?

9-Você já sentiu desconforto físico ou emocional ao tentar parar de fumar?

10-Você já conseguiu parar de fumar por um período de tempo, só para recomeçar tudo de novo?

11-Você armazena estoque extra de cigarros para ter certeza de que não vai ficar sem?

12-Você acha difícil imaginar a vida sem fumar?

13-Você escolhe apenas atividades e diversões durante as quais possa fumar?

14-Você prefere, procura ou sente-se mais à vontade na companhia de fumantes?
15-Você se sente intimamente envergonhado de si mesmo ou se despreza por causa de seu hábito de fumar?

16-Você já se percebeu acendendo um cigarro sem ter tomado conscientemente a decisão de fazê-lo?

17-O seu hábito de fumar causou algum problema em casa ou nalgum relacionamento?

18-Alguma vez você já disse para si mesmo que pode parar quando quiser?

19-Alguma vez você sentiu que sua vida poderia ficar melhor se você não fumasse?

20-Você continua a fumar mesmo sabendo do males causados à saúde pelo cigarro?


Se você respondeu "sim" a uma ou duas destas perguntas, há uma chance de você ser, ou estar se tornando, um adicto à nicotina.
Se você respondeu "sim" a três ou mais perguntas, provavelmente você já é adicto à nicotina.
Se deseja Parar de fumar, Fumantes Anônimos pode lhe ajudar. http://www.fumantesanonimos.hpg.ig.com.br/apresentacao.htm

.Procure seu médico, já existem vários medicamentos que podem ajudá-lo. A acupuntura aliada a esforço também será grande parceira.

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quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

A COMUNIDADE

Uma vez a personalidade adicta instalada, o adepto ativo ou o adicto em recuperação passará a ver o mundo numa perspectiva diferente. Tal como em qualquer doença grave, a adicção é uma experiência que muda as pessoas de forma permanente. É por isso tão importante que as pessoas participem regularmente em reuniões dos Doze Passos e outras reuniões de auto-ajuda; a lógica adictiva permanece bem no fundo delas e procura uma oportunidade para se reafirmar, da mesma forma ou de forma diferente. Os adictos em recuperação continuam a ir em reuniões e a trabalhar no programa porque continuam a ser adictos. A recuperação é a aceitação contínua da adicção e o controle contínuo da personalidade adictiva seja qual for a forma com que se manifeste."
* Personalidade Adictiva -Craig Nakken - Vila Serena - Editora Educaional

TERMO DE RESPONSABILIDADE


Quando alguém, seja onde for, estender a mão pedindo ajuda,

quero que a mão de Grupo de Dependentes Anônimos esteja sempre ali.

E por isso EU SOU RESPONSÁVEL.

PERSONALIDADE ADICTIVA




" O que torna a relação adictiva tão atrativa é a alteração de humor que produz. É garantido, funciona sempre. Nenhuma relação humana pode dar esse tipo de garantia."

"...Lista de ocasiões em que a pessoa está mais suceptível a formar relações adictas:

. perda de pessoa amada;

. perda de status;

. perda de ideais, de sonhos;

. perda de amizades;

. novos desafios sociais;

. isolamento social;

. deixar a família.

. Encontrar a realização emocional ( a adicção é, em última instância a busca de realização emocional) através de um objeto (álcool, drogas,comida, etc...) ou de um acontecimento (compras; jogos, etc...) possa trazer alguma coisa mais do que uma alteração momentânea de humor."


*Personalidade Adictiva - Craig Nakeen - Vila Serena Editora Educacional

PODER SUPERIOR ESPIRITUAL

No âmbito espiritual, acreditamos num poder superior a nós, maior do que nós. Varia de pessoa para pessoa a forma como a espiritualidade é definida. Para certas pessoas, um Poder Espiritual é um Deus pertencente a uma religião; para outras, Deus é a natureza, o Universo, ou um grupo de amigos íntimos que as apoia. Através da relação com um Poder Superior espiritual, aprendemos a compreender e aceitar uma ordem natural, uma corrente natural. Aprendemos a avaliar o importante espaço que ocupamos no mundo e entre os outros seres vivos, mas aprendemos também que somos apenas uma parcela da humanidade. Desta forma aprendemos a observar o mundo e a observarmo-nos com um sentido realista. Desenvolvemos também uma relação para a qual podemos nos voltar quando a família ou os amigos não bastam... Aprendemos o que é confiar e o que é acreditar... Aprendemos a ter fé, o que significa que não precisamos viver apenas para o momento que passa. Aprendemos a acreditar e a confiar que haverá momentos futuros com serenidade e momentos de bem-estar.
*Personalidade Adictiva - Craig Nakken - Vila Serena Editora Educacional

ESPIRITUALIDADE: O QUE É ISSO?



“Será que espiritualidade se refere só a Deus e à religião, ou terá um significado mais lato?

Será a dependência química uma expressão destrutiva de nossa natureza espiritual?”

Ao ingressarmos num grupo de auto-ajuda somos instados a crer que, um Poder Superior conforme o concebemos, pode devolver-nos a sanidade. Que decidimos entregar aos cuidados de Deus nossa vontade e nossa vida.
Muitas vezes essa proposta deixa o iniciante em choque: ele nem sabe o que é Deus! Até a muito pouco tempo seu deus era o objeto de sua adicção.
- E espiritualidade? O que é isso? Terei que entrar em alguma igreja, abraçar alguma religião para conseguir me recuperar?
Essas perguntas podem atormentar e até atemorizar nosso ingresso na sanidade. Para resolver, precisamos compreender a definição ampla de espiritualidade.
“Uma das maneiras de definir é constatando as áreas da vida às quais a espiritualidade se liga:
Espiritualidade tem a ver com a qualidade do nosso relacionamento com quem quer que seja ou o que quer que seja de mais importante em nossa vida”.
Faz parte da condição humana. Todos temos um lado físico e um lado emocional, assim como um lado espiritual. Uma psiquiatra inglesa foi a primeira a aceitar o trilogismo que nos constitui. Nosso lado espiritual nos vincula aos outros seres humanos, através dele fazemos parte de um Todo. Deus é apenas um dos muitos focos espirituais possíveis.
Podemos nos aceitar matéria, uma vez que é palpável e visível. Podemos nos aceitar emoção porque é sensível. Mas temos dificuldade de nos aceitar espíritos porque somos infantis e queremos crer apenas no que podemos tocar, cheirar, ver, degustar ou sentir. Como se o Universo, a Criação, estivesse preocupada com nossas necessidades ou desejos. A Essência existe, queiramos ou não.
No entanto, também é simples perceber nossa espiritualidade se constatamos que está ligada a sentimentos como amor, confiança e compromisso. Por algum tempo depositamos todas essas preciosidades no foco de nossa dependência: amávamos o objeto, ou acontecimento através do qual nos ligávamos ao mundo: álcool, drogas, jogo, comida, cigarro, etc. Esse amor afetava todas as nossas outras áreas de vida: a família, o trabalho, o lazer. Vivíamos uma espiritualidade distorcida e destrutiva.
A palavra “espiritualidade” tem sua raiz em “espírito” que significa, segundo o Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa:
* Parte imaterial do ser humano.
* Alma.
* Pessoa dotada de inteligência ou bondade acima do comum.
* Imaginação, engenho, inteligência, finura.
* Ânimo, índole.
* Graça, humor.
* Idéia predominante; significação, sentido.
* Faculdade de conhecer, de aceitar as coisas.
* Idéia, pensamento, cabeça.
A concepção, assim percebida, aumenta consideravelmente e pode abranger muitos aspectos de nossa vida.
Quando falamos sobre o espírito de equipe de nosso time de futebol, ou no espírito de fraternidade dos grupos de auto-ajuda, compreendemos bem que é o sentimento que une e move as pessoas.
Espiritualidade nos une a alguém ou a alguma coisa que nos dê a sensação de Plenitude. Todo ser humano necessita sentir-se completo. Carl Jung definiu o alcoolismo como “...doença espiritual que tem na sua base um impulso para a plenitude...”.
Por algum tempo, nos sentíamos plenos com o uso de falsos portadores dos deuses: foco de nossa dependência. Falsa plenitude, logo seríamos esquecidos e traídos por ela. O objetivo mais amplo da dependência é a destruição. Nós aceitamos essa imposição porque retiramos de valores dignos e das pessoas, a nossa confiança. Para não sermos traídos, nos entregamos à Traição.
Passamos agora a adquirir um conceito de espiritualidade que nos permite escolher como a conceberemos. O lado magnífico dessa concepção é que, em vez de nos sufocar e se tornar maior do que nosso Eu, ela nos permite expandi-lo ao infinito. Podemos começar a admitir que nosso Poder Superior é o nosso grupo de auto-ajuda, os companheiros com seu carinho e compreensão da qual somos tão necessitados. “Um grupo de pessoas é um poder maior do que nós mesmos, e podemos dar-lhe o poder divino de nos mostrar o que precisamos fazer”.
Podemos olhar o céu numa noite esplendorosa, ou num dia de temporal e sentir a imensidão do Universo e deixarmos que seja ele a nossa Espiritualidade. A partir daí olharemos os seres vivos e deixaremos que nos ensinem com sua pureza e fidelidade à missão para a qual foram criados. A capacidade de embelezar da natureza. A dadivosa doação das plantas. A sabedoria dos animais. O carinho de tantos pela sua prole. E isso de formas múltiplas, quase interminável.
Podemos crer que a Criação é o que governa tudo e poderá nos governar.
Podemos encontrar eco em alguma religião constituída e a abraçarmos sem reservas, seja ela qual for.
Espiritualidade e religião são usadas como se fossem a mesma coisa e não são. Espiritualidade nos liga ao nosso foco de amor e religião é um conjunto de crenças, preceitos, rituais específicos de cada uma como forma de nos aproximarmos de Deus, sendo Este também conceituado segundo tais preceitos. A palavra Religião vem do latim religare, ou seja religar-se, portanto é ligação ou re-ligação com um Poder Superior, sem que haja especificação de forma ou meio. A partir daí temos uma série de religiões que corresponderão a arquétipos que nos sensibilizam, ou não.
Enfim, ao deslocarmos nossa espiritualidade para focos construtivos, podemos concebê-la como quisermos e como melhor fala ao nosso Eu sequioso de desenvolvimento, amor e felicidade.


* Conceitos entre aspas retirados do livreto sobre Espiritualidade - Paul Bjorklund – Hazelden Foundation







quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

AMANTE INFIEL


Quando acordei a luz do dia se apagava, estava tudo em silêncio, os obreiros tinham se ido. Ao meu lado meu amante, uma garrafa vazia, me fitava com olhos vazados.
Compreendi que esse amor sempre me trairia. Como todos os outros.
Chorei despedaçadamente.
Minhas perdas desfilando num bailado grotesco e misturando cores e formas enevoadas pela áurea depressiva que sempre acompanhava meus despertares de ressaca. As paredes se destroçaram e pude ver meu pai, seu sorriso parado, atirado no sofá babando fedor a álcool. O ódio da traição vestido de mulher ali do lado, as unhas afiadas e entrando na carne dele que eu amava.
- Carmela! – gritou o ódio. Tira esse bêbado imprestável daqui!
Eu não tinha forças para levantar meu pai e achava que estava tudo certo, os homens bebem. Era tudo exagero de minha mãe, essa mulher cruel que só escarnecia do marido frágil. Porque meu pai era frágil. Via isso no fundo de seus olhos vermelhos e naquele avô perdido que passeava neles:

- Ele se foi.
Argemiro ouviu a velha mãe, muito mais velha do que a idade, gemer baixinho e acrescentar:
- Foi com ela, com a Benta.
Minha irmã Benta? A Bentinha que brincava de correr atrás das galinhas? Por que ele a levaria? Sei que gostava muito dela, eles tinham os mesmos olhos verdes de campo macio, o mesmo jeito de sorrir de lado, espiar pelos cantos, de suspirar quando se olhavam. Mas levar só a Benta? E eu? E meus cinco irmãos? Por que não nos levou também?
- Uma desavergonhada que merece o pai que tem para amante. Uma vagabunda que eu pus no mundo para me dar vergonha e roubar meu marido.
Minha mãe divagava. Nada disso era verdade. Eles se gostavam, era pai e filha, como poderia ser diferente? Riam tomando banho no ribeirão, ela cheia de cócegas e meu pai gostando de esfregar suas costas com o sabão grosso feito em casa.
Ela cresceu, ficou bonita, desabrochou corpo. Meu pai gostava de ver do maneio dos quadris. Mas eu me dizia que era certo admirar a filha bonita daquele jeito. Os olhos ficaram maiores e mais verdes, chamas verdes queimantes.
Se foram. A barriga de benta crescendo, eu vi. As mulheres sempre engordam de vez em quando. Não é? É sim.

Eu puxei o pai pelo braço e falei coisas boas no ouvido dele:
- Está tudo bem, eu te levo. Me ajuda.
- Filhinha, minha filhinha, igualzinha a Benta. Faz um carinho no papai faz.
Que pai não ama sua filha?
Fomos nos arrastando, os pés dele tropeçando sobre si mesmos. Caímos em cima da cama. Ele nem viu quando tirei seus sapatos. E roncou.
Eu odiava o cheiro azedo que ele tinha, mas os pais bebem, é normal, não é?
Eu odiava a minha mãe, a chamava de sem sentimentos, sempre arrastando as chinelas e dizendo descalabros que eu entendia pelo som e não pelo significado. Minha mãe esgotara tudo nele. Tornou-se oco e vesgo.

Eu estava vesga com a superposição das imagens que invadiam meu quarto, queria levantar, lavar o rosto. Eu precisava, mas o barulho dos gritos era muito alto, insuportável. Calei-os no copo de gim que esquecera, bendito esquecimento, em cima da cômoda. Agora eram apenas sussurros.
- A Benta... Ela fodeu com o pai. Eu tinha espiado uma noite quando acordei com aqueles sons que se repetiam no sono despertado da gente. Meus irmãos calados, um medo e um adivinhar fechando as bocas, os peitos, a esperança.
- Leva este imprestável daqui!
E a roupa dos outros sendo lavada em troca da comida que não chegava nunca.

Paredes são cruéis, falam demais. Elas gritam e preciso tapar os ouvidos. Eu emborco a garrafa vazia e um último pingo é pouco demais. Na cozinha tem, eu lembrei. Chego até lá, eu consigo.
Preparei-me, o corpo obedece a coisas que a gente nem acredita. Abracei-me na garrafa e voltei para o quarto.

As idiotas das paredes continuavam cheias de gente. Eu estava na cama e estava nela. Como pode ser isso? Entender é um desperdício de tempo. Eu não tinha tempo e fiquei me olhando a desfilar na parede.
Não me parecia em nada com minha tia Benta. Não a conheci, mas meu pai me dizia isso e sorria, parecia feliz. Aos poucos fui deixando de ser feliz com ele. Meus amigos riam quando ele chegava e estragava nossa festa. Minha mãe, aquela vaca, é que estragava. Não escondia nada, não disfarçava. Será que não podia enxergar que era melhor não ver? Não mostrar?
- Carmela, pega esse imprestável e leva para a cama!
Eu ficava roxa de vergonha, meus amigos ali, vendo tudo.
Só o Flávio não ria. Ele compreendia. Às vezes me ajudava pegando o pai por um braço e eu pelo outro. Flávio, minha salvação. Ele era tão, tão normal. O pai trabalhava como todo mundo e a mãe fazia bolos fofos, tão bons de comer.
A gente foi crescendo assim, no meio daquele disfarce. A mãe não chorava nunca. Também não beijava e nem perguntava nada sobre mim. Ela permitia tudo e isso era estonteantemente horrível.
A gente foi crescendo, dizendo sim. Sim, eu levo. Sim, eu deixo. Sim, me abusa. Sim, eu não existo. Eu existo. Isso é tudo normal.

Quero morrer. É tudo que eu quero. Flávio é um marido desgraçado, de normal tem um chicote feito de palavras cruéis, um olho afiado que me corta e me joga no silêncio das paredes.
Tia Benta se desprende da argamassa estendendo os braços para mim. Não está mais bonita, está desdentada e me diz:
- Carmela, é assim mesmo, não fiques triste. Teu avô logo, logo volta.
Eu não queria que fosse assim, tudo assim, normal.
Só queria que alguém fosse permanente e que houvesse mesmo um bom abraço e que eu pudesse chorar em paz. Esquecer.
Eu consegui atingir meu objetivo. Eu esquecia todos os dias dentro de ti, minha paixão transparente. Fiel. Sempre ali, ao alcance de minha mão. Minha tesão, meu sonho: a garrafa.

- Tu me traíste, miserável.
O líquido derramou-se manchando o tapete já encardido. A solidão abraçou-me. Essa não me trairia e nunca me abandonaria, enquanto eu pudesse beber minha amante vagabunda.
Não deixaria que me chamassem de imprestável. Jamais.

Entrei no carro e acelerei quando o sinal fechou. As paredes jorraram sangue vermelho campari.

Vana Comissoli

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008


SOU UM ADICTO A DROGAS?



Se você tem alguma dúvida quanto a ser ou não um adicto a drogas as perguntas abaixo podem lhe ajudar. Responda-as o mais honestamente possível.

01. Alguma vez você já usou drogas sozinho?

02. Alguma vez você substituiu uma droga por outra,pensando que uma em particular era o problema?

03. Alguma vez você manipulou ou mentiu ao médico para obter drogas que necessitam de receita?

04. Você já roubou drogas ou roubou para conseguir drogas?

05. Você usa regularmente uma droga quando acorda ou quando vai dormir?

06. Você já usou uma droga para rebater os efeitos de outra?

07. Você evita pessoas ou lugares que não aprovam o seu consumo de drogas?

08. Você já usou uma droga sem saber o que era ou quais eram os seus efeitos?

09. Alguma vez o seu desempenho no trabalho ou na escola foi prejudicado pelo seu consumo de drogas?

10. Alguma vez você foi preso em conseqüência do seu uso de drogas?

11. Alguma vez mentiu sobre o quê ou quanto você usava?

12. Você coloca a compra de drogas à frente das suas responsabilidades?

13. Você já tentou parar ou controlar seu uso de drogas?

14. Você já esteve na prisão, hospital ou centro de reabilitação devido a seu uso?

15. O uso de drogas interfere em seu sono ou alimentação?

16. A idéia de ficar sem drogas o assusta?

17. Você acha impossível viver sem drogas?

18. Em algum momento você já questionou sua sanidade?

19. O consumo de drogas está tornando sua vida infeliz em casa?

20. Você já pensou que não conseguiria se adequar ou se divertir sem drogas?

21. Você já se sentiu na defensiva, culpado ou envergonhado por seu uso de drogas?

22. Você pensa muito em drogas?

23. Você já teve medos irracionais ou indefiníveis?

24. O uso de drogas afetou seus relacionamentos sexuais?

25. Você já tomou drogas que não eram de sua preferência?

26. Alguma vez você usou drogas devido a dor emocional ou “stress”?

27. Você já teve uma overdose?


28. Você continua usando, apesar das conseqüências negativas?

29. Você pensa que talvez possa ter problemas com drogas?


Sou Um Adicto?

Esta é uma pergunta que só você pode responder. Nós, de Narcóticos Anônimos (NA) respondemos “sim” a um número diferente de perguntas. O número de respostas positivas não é tão importante, quanto aquilo que sentimos e a maneira como a adicção afeta nossas vidas.

Se você admite que tem problemas com drogas, e quer se libertar, então você pode caminhar em numa nova estrada. “A estrada da recuperação”. Essa estrada pode ser construída em Narcóticos Anônimos. http://www.narcoticosanonimos.com.br/

Mesmo achando um grupo de auto-ajuda não deixe de buscar um psiquiatra ou terapeuta especializado. Se for recomendada a internação, não se assuste, sua VIDA está em jogo, lute por ela.

Na drogadição, a desintoxicação é importantíssima e difícil de ser atingida, se não nos recolhermos sob o cuidado de equipe capacitada. Parece assustador, mas creia, seria muito mais terrivel fazê-lo sozinho. Quebre os paradigmas:


LUTE!

AS DOZE PERGUNTAS DE ADICÇÃO AO ÁLCOOL












SOU UMA PESSOA ALCOÓLICA?




Existem doze perguntas que podem lhe ajudar no auto-diagnóstico.

01. Já tentou parar de beber por uma semana (ou mais), sem conseguir atingir seu objetivo?

02. Ressente-se com os conselhos dos outros que tentam fazê-lo parar de beber?

03. Já tentou controlar sua tendência de beber demais, trocando uma bebida alcoólica por outra?

04. Tomou algum trago pela manhã nos últimos doze meses?

05.Inveja as pessoas que podem beber sem criar problemas?

06. Seu problema de bebida vem se tornando cada vez mais sério nos últimos doze meses?

07. A bebida já criou problemas no seu lar?

08. Nas reuniões sociais onde as bebidas são limitadas, você tenta conseguir doses extras?


09. Apesar de prova em contrário, você continua afirmando que bebe quando quer e pára quando quer?

10. Faltou ao serviço, durante os últimos doze meses, por causa da bebida?

11. Já experimentou alguma vez ‘apagamento’ durante uma bebedeira?

12. Já pensou alguma vez que poderia aproveitar muito mais a vida, se não bebesse?



QUAL FOI A CONTAGEM?

Respondeu SIM quatro vezes ou mais?
Em caso positivo, é provável que você tenha um problema sério de bebida, ou poderá tê-lo no futuro.

Por que dizemos isto?
Somente porque a experiência de milhares de alcoólicos recuperados nos ensinou algumas verdades básicas a respeito dos sintomas do alcoolismo – e de nós mesmos.
Você é a única pessoa que poderá dizer, com certeza, se deve ou não procurar AJUDA.

Se a resposta for SIM, teremos satisfação em mostrar-lhe como conseguimos parar de beber.
. Procure um Grupo em sua comunidade ou entre em contato com http://www.alcoolicosanonimos.org.br

Parar de Beber Significa EVITAR O PRIMEIRO GOLE, UM DIA DE CADA VEZ.

Procure, imediatamente um terapeuta ou clínica especializada. Não tenha preconceito ou medo. SUA VIDA É MAIS IMPORTANTE!

Se ainda não puder admitir que você tem um problema de bebida, não faz mal. Apenas sugerimos que você encare sempre a questão com mentalidade aberta. Não feche os olhos para o PERIGO .


*A experiência vem demonstrando que há necessidade de um auto diagnóstico específico para cada manifestação da mesma doença!

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

AS VINTE PERGUNTAS DA ADICÇÃO AO JOGO




1. Você já perdeu horas de trabalho ou da escola devido ao jogo?


2. Alguma vez o jogo causou infelicidade na sua vida familiar?


3. O jogo afetou sua reputação?


4. Você já sentiu remorso depois de jogar?


5. Alguma vezvocê jogou para obter dinheiro para pagar dívidas ou então resolver dificuldades financeiras?


6. O jogo causou uma diminuição na sua ambição ou eficiência?


7. Após ter perdido você se sentiu como se necessitasse voltar o mais cedo possível e recuperar suas pedras?


8. Após um ganho você sentiu uma forte vontade de voltar e ganhar mais?


9. Você geralmente joga até que seu último centavo acabasse?


10. Você já pediu dinheiro emprestado para financiar jogo?


11. Alguma vez você vendeu alguma coisa para financiar jogo?


12. Você reluta em usar o "dinheiro de jogo" para as despesas normais?


13. O jogo o tornou descuidado com o seu bem estar e o de sua família?


14. Alguma vez você já jogou por mais tempo do que planejava?


15. Alguma vez você jogou para fugir das preocupações ou problemas?


16. Alguma vez você já cometeu, ou pensou em cometer um ato ilegal para financiar o jogo?


17. O jogo fez com que você tivesse dificuldades para dormir?


18. As discussões, desapontamentos ou frustrações fizeram com que você tivesse vontade de jogoar?


19. Alguma vez você já teve vontade de celebrar alguma boa sorte com horas de jogo?


20. Alguma vez você pensou em se auto destruir como resultado de seu jogo?



A MAIORIA DOS JOGADORES COMPULSIVOS RESPONDERÁ SIM A PELO MENOS SETE DESSAS PERGUNTAS.


quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

OUTRA CHANCE

Companheiro dependente, aceite a minha mão; sou seu amigo, eu o compreendo.


Conheço sua culpa, sua vergonha, seu remorso; carreguei o peso de sua cruz.
Encontrei um amigo que me ofereceu ajuda; ele também sofreu essa doença.
Embora ele não tivesse a cura mágica, mostrou-me como eu poderia resistir.
Conversamos lado a lado; falamos de coisas que precisávamos esconder.
Conversamos sobre as noites em claro e as dívidas, sobre lares desfeitos, mentiras e ameaças.
E assim, meu tão sofrido amigo dependente, por favor, aceite esta mão que lhe estendo.
Aceite uma outra chance em algo novo, é outro dependente que está lhe ajudando.

* Adaptado do livreto de boas vindas dos Jogadores Anônimos

ESPIRITUAL:





29/01
"Você está pronto para mudar as suas idéias e a sua maneira de pensar? Você está preparado para aceitar o novo sem reservas? Algumas almas conseguem ser flexíveis e mudar sem problemas, mas outras sentem dificuldade, e isto acarreta tensão e preocupação em suas vidas. E o que é pior, em alguns casos causa estagnação. Você deve ser corajoso, seguir em frente para o novo, navegando sem medo por mares desconhecidos. Eu estarei guiando você e não permitirei que nada de mal lhe aconteça. Aceite-me como seu guia e companheiro constante. Não lhe foi pedido que navegasse pelas águas desconhecidas sem piloto. Eu Sou seu piloto e jamais o decepcionarei. Confie em Mim plenamente. Se o caminho ficar difícil não fique com medo; se for perigoso, não se preocupe. Eu o guiarei através de tudo. Mas lembre-se: solte as amarras e deixe que Eu o guie, não resista."
* "Abrindo Portas Interiores" - Eileen Caddy
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A ALEGRIA DE COMPARTILHAR

"Mostrar ao outros que ainda sofrem, como fomos ajustados, é justamente o que hoje nos faz sentir o valor de nossas vidas. Apegue-se a este pensamento: Nas mãos de Deus o passado escuro é a maior riqueza, é a chave para a vida e a alegria dos outros. Com ele você poderá evitar-lhes a morte e a miséria."

Alcoólicos Anônimos

Que dádiva é para mim perceber que todos aqueles anos que pareciam perdidos não foram desperdiçados. As mais degradantes e humilhantes experiências mostram-se como as mais poderosas ferramentas para ajudar outros a se recuperar. Conhecendo as profundezas da vergonha e do desespero, posso alcançá-los com uma mão amável e compassiva, bem como saber que a graça de Deus está disponível para mim.



*Adaptado do livro: Reflexões Diárias – escrito por membros de A.A. para membros de A.A.

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

DEPENDÊNCIA = ADICÇÃO


. RAÍZES = Experiências

. RITUAIS = Forças

. RECUPERAÇÃO = Esperanças



Eu me chamo Anônimo.

Sou um:

. Dependente de drogas;
. Adicto às drogas;
. Dependente químico de substâncias;
. Drogadicto.
. Em recuperação.

Sou um:

. Alcoólatra;
. Alcoolista;
. Alcoólico;
. Etilista;
. Dependente do álcool;
. Adicto ao álcool.
Em recuperação.

Um Dependente Compulsivo:

. De drogas;
. De nicotina;
. De álcool;
. De jogo;
. De trabalho;
. De emoções.
Sou um co-dependente, enfim, sou um Neurótico.
Em recuperação.

Por isso adquiri um estilo de vida:
INÚTIL;
DESTRUTIVO e
INFELIZ.


Em Recuperação readquiri um estilo de vida:

ÚTIL;
CONSTRUTIVO
e FELIZ.


Vivendo um dia de cada vez, já construí milhares de 24 horas de Recuperação.



SOBRE A PALAVRA "ADICÇÃO”:


“O substantivo adicção designa em nossa língua a inclinação ou o apego de alguém por alguma coisa.”
O adjetivo adicto, por sua vez, define a pessoa francamente propensa à prática de alguma coisa-crença, atividade, trabalho ou partidária de determinados princípios.
Por exemplo:
Nos tempos da República Romana, o homem que, para pagar uma dívida, se convertia em escravo por não dispor de outros recursos para cumprir o compromisso contraído.
Addictum era aquele que se assumia como marginal; alguém que, fatal ou voluntariamente, fora jogado numa condição inferior a que tivera até então.O adicto parece, assim, como aquele que perdeu a sua identidade, simultaneamente, adotou uma identidade imprópria como única maneira possível de saldar sua dívida.

UM CONCEITO IMPORTANTE!
“Dependência química é uma doença bio-psico-social ativada por uma predisposição (gatilho que sempre dispara) da pessoa a desenvolver dependências as substâncias psico-ativas que provocam alterações no estado de humor. É uma doença que pode ser reconhecida através de sinais e sintomas específicos, por isso é considerada uma síndrome.”

"ALCOÓLICOS E DROGADOS NÃO SÃO OS ÚNICOS DEPENDENTES DA ADICÇÃO".

Há dezenas de milhares de pessoas que são adictas ao:
. jogo;
. Internet;
. sexo;
. trabalho;
. comida;
. gastos compulsivos;
. tabaco;
. amores exacerbados;
muitos outros,
são 121 tipos de dependências reconhecidos por grupos de auto-ajuda no mundo.


Esses dependentes podem nunca ter usado substâncias químicas alteradoras de humor como parte dos seus rituais para apanhar uma pedra.
* Pedra = objeto da adicção.

O isolamento emocional;
a vergonha;
e o desespero das suas vidas
são testemunhos do poder da adicção.

ADICÇÃO: um amor patológico.

ADICÇÃO: uma relação de confiança com um objeto ou acontecimento.

ADICÇÃO: uma doença:
Multifacetada;
Incurável;
Progressiva;
Alienante
Fatal.
Porém, estacionária.

ADICÇÃO é uma doença:
Física;
Mental;
Emocional;
Social
Espiritual.

* Espiritual é diferente de religioso. Evite preconceituar!

ADICÇÃO

É Uma Doença BIOPSICOSSOCIAL
(OMS - Organização Mundial de Saúde -1964).



Existem inúmeras tentativas e formas que visam descrever a adicção.

Nada completamente definido foi determinado até agora.
É a doença da solidão, da vergonha e do medo.

COM CERTEZA:

ADICÇÃO

. NÃO É FRAQUEZA MORAL;

. NÃO É FALTA DE FORÇA DE VONTADE;

. NÃO É INCAPACIDADE DE ENFRENTAR O MUNDO;

. NÃO É SEM-VERGONHICE.


. OS ADICTOS NÃO SÃO E NEM DEVEM SER JULGADOS CULPADOS, OU ASSIM SE JULGAREM, POR SEREM PORTADORES DESSA DOENÇA.



COM TODA CERTEZA:

Devem se assumir responsáveis, para conseguir se RECUPERAR.

Cuidado!
RECUPERADO é diferente de CURADO.

AGORA A PERGUNTA:

. VOCÊ É ADICTO OU DEPENDENTE POR ALGUM:
. OBJETO,
. ACONTECIMENTO,
. OU PESSOAS?


UMA AFIRMAÇÃO:

ESSA É UMA PERGUNTA QUE SÓ VOCÊ DEVE RESPONDER!


SE VOCÊ FOR UM ADICTO, VOCÊ NÃO ESTÁ SÓ.

. GRUPOS ESPECÍFICOS SOBRE SUA ADICÇÃO PODEM LHE AJUDAR. SÃO GRUPOS DE AJUDA MÚTUA.
.TERAPEUTAS E CLÍNICAS ESPECIALIZADAS SÃO FUNDAMENTAIS, NÃO OS MENOSPREZE.

CARTA DE PAULO AOS CORÍNTIOS


"Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, serei como o bronze que soa, ou como o címbalo que retine.
Ainda que eu tenha o dom de profetizar e conheça todos os mistérios e toda a ciência: ainda que eu tenha tamanha fé, a ponto de transportar montanhas, se não tiver amor, nada serei.
E ainda que eu distribua todos os meus bens entre os pobres e ainda que entregue meu próprio corpo para ser queimado, se não tiver amor, nada disso se aproveitará.
O amor é paciente, é benigno, o amor não arde em ciúmes, não se ufana, não se ensoberbece, não se conduz incovenientemente, não procura seus interesses, não se exaspera, não se ressente do mal; não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade. Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.
O amor jamais acaba. Mas, havendo profecias, desaparecerão; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, passará. Porque em parte conhecemos e em parte profetizamos. Quando porém vier o que é perfeito, o que então é em parte, será aniquilado.
Quando eu era menino, falava como um menino, sentia como menino. Quando cheguei a ser homem, desisti das coisas próprias de menino.
Porque agora vemos como um espelho, obscuramente, e então veremos face a face; agora conheço em parte, e então conhecerei como sou conhecido.
Agora, pois, permanecem a Fé, a Esperança e o Amor. Estes três. Porém o maior deles é o Amor".

ONDAS SAZONAIS

A todos aqueles que são bipolares e
sentem medo.

“A vida vem em ondas, como o mar.”
Vinícius de Morais



Ah!... Foi um remanso. Não, foi uma hecatombe. Sei lá, foi um por que... Ou não. Foi um espaço. Preferiria que fosse um engano.
As palavras voltam e as vidas são um tocar de dedos. Sinto na minha pele, a dor e a felicidade de novo. Vi gente que não conheço jamais conhecerei. Seu choro guarda-se em mim como uma tatuagem indelével, ou uma facada profunda.
Pelos campos, pelas florestas, pelas cidades, pelos descaminhos, eles falam e sei que não conseguirei calá-los, por isso preciso escrever. Para não chorar, para fazer de conta que só existe a fantasia e eu. Anseio por sair da avalanche de portas trancadas e janelas guarnecidas por grades, ainda soa o disciplinado horário de dormir, comer, chorar, surtar. A histeria andando solta pelo jardim enquanto dezenas de cigarros queimam até o filtro e os dedos. Muitos olhos fitam através das coisas e das pessoas, tudo vidro. Por isso preciso reencontrar as raízes como bruxas sortílegas e fincar meu pé no que é verossímil sem ter muita certeza sobre o significado disso.

Revejo os campos destroçados da infância e choro. Sei que não basta embora minha alma mantenha-se tranqüila. Uma tranqüilidade sem movimento, água estagnada.
Entro na velha terra do passado como um forasteiro e me esgueiro pelos montes, pelas chochas colheitas e vejo as mãos de meus pais sangrando. Ouço gritos de guerra jamais executados e me firo na covardia da sobrevivência. Sou como um cão a farejar os despojos e bebo minha própria urina.
Alguma coisa dentro de mim não se mantém inerte, quando estou próximo de comer o incomível, lembro-me de que também sou feito de outras terras e outros mares.
Terras bastardas, sem nenhum laço de nobreza, terras tão virgens quanto é virgem de amor o meu sexo. As paragens de minha adolescência e me lanço a redescobrir.
Meu peito dói como uma chaga e meus pulsos estão seviciados por correntes, mas ainda assim... Se eu não acreditar em ti, Lembrança, em que acreditarei?
Se não construirmos relações de agonia e amor nada teremos. Parece-me ter pensado algo assim.
Mergulho até a morte e renasço de minhas próprias vísceras, abro os olhos e começo a perceber tudo que me cercara e os lugares perdidos onde pernoitei. As palavras são pássaros ardentes no meu peito, voam para todos os lados numa algaravia interminável. Sobrevoam-se e copulam num encontro flutuante e breve, logo tornam ao espaço escuro do meu coração. Eu penso em mim como uma folha morta enquanto encho páginas e mais páginas com palavras-pássaros que tem por ninho a lata de lixo.

Nos intervalos, sento-me a fumar. Eu flutuo.

Às vezes a tristeza da gente é contrita e absoluta como uma prece, sem motivo ou razão, talvez saudades do que não se foi.
O silêncio é soberano e a solidão não é dor, mas companheira. A tristeza não é má, é apenas palpável e presente. Um estado, uma jornada da alma que apenas a paz pode proporcionar sem sofrimento. Não há perdas, não há ganhos, há o que foi e o que é.
A tristeza da consciência de existir abraça a gente como um xale que aquece mornamente as ilusões passadas. Não se revive as batalhas ganhas, nem as perdidas, é um estar acordado dormindo, ou um dormir acordado. Não há lágrimas, ou lamentos, nem o bem, nem o mal. Um poema transita pelos olhos fazendo a antiga nostalgia arder.
Tudo continua acontecendo: os homens sonham, planejam, fornicam e choram, principalmente choram. Aqui não acontece nada, fica-se à margem.
Na tristeza tudo para, nada existe além de um breve latejar, um sussurro, um gemido. Possíveis gritos surdos. O além nos tocando... a tristeza.

Sobreviveremos, sobreviverei, escapou de meus lábios apertados.
O quarto é um abandono. Papéis espalhados pelo chão, alguns respingos de chuva entram pela janela que bate seus postigos amarelos num som monótono e constante, qual lenço acenando adeus.
Sobre a cama, mole e abandonado, deita-se um par de meias enxovalhadas. Na mesinha, ao lado contrário da cama, espalham-se farelos de pão e marcas de muitas xícaras de café. O armário tenta recolher, em vão, suas portas escancaradas, é como uma boca sem dentes assim vazio de roupas. Sob ele um chinelo desbeiçado.
O proprietário deste ambiente que guarda vestígios de loção de barba e desodorante é o pó, abancado sobre os móveis a sorrir inútil posse. Há também um cheiro de urina e cigarro.
Num canto, com as pontas presas através de pedras arredondadas por muita água de rio, morre um mapa-múndi, jogados sobre ele estão dois dados coloridos com seus doze olhos voltados para cima. Ao lado, cartas de Tarô com a Torre a espiar.
Abro a porta, ainda não posso partir. Não importa o que me diga a sorte, também não pretendo abandonar-me no quarto novamente.

Foi de repente, ou de um dia para o outro, que saí da inércia e do desespero de andar em círculos. Quero olhar gente, ruas, árvores. Vou cantando porque a vida é maravilhosa e pressinto que logo estarei apaixonado e o amor será intenso, como eu gosto.
É primavera cá dentro do peito e a vontade de fazer amor sem parar me deixa flexível e arguto. Todos os odores são convites e todas as mulheres são belas. Sinto-me magnífico e forte.
Decido desenvolver projetos que mofam há três meses na gaveta por isso retornei correndo ao quarto.
- Imundo. Como pude estar tão disperso? Minha vida é um brinquedo de parque de diversões, um João-bobo, chega dar náusea o sobe e desce, o vai e vem.
Abro as janelas, ainda bem que faz sol, junto o lixo: destroços do tempo introspectivo.
- Não sou louco, sou ambivalente, a dor profunda é fácil demais, por isso não acontece todos os dias. Basta de dor, toca a viver.
Corro até a esquina e compro flores, quatro ramalhetes de estonteante amarelo girassol, aproveito e trago junto vasos. Muitos. Quem sabe precisarei mais? O colorido faz parte de mim, sem ele não consigo viver. A partir de hoje.
Agarro-me nas paredes porque sinto meu sexo latejando. Ligo para Mariana:
- Querido, que saudades! Que houve contigo? Pensei que tivesse viajado. – A voz dela é gostosa e fico feliz em responder o vago.
- Viajei, estou de volta, vem jantar comigo.
Preciso de um carro, vendi o antigo há poucas semanas. Como posso me locomover sem um? Impossível! Terminarei aquele projeto e vendo e então sei que dá certo preciso ousar um pouco só um pouquinho e fica tudo bem nunca fui acomodado não sei o que me deu essa depressão o mundo só pode passou e também preciso de roupas decentes que as velhas estão de doer e é já.
- Viva o cartão de crédito!
Festejarei o banquete que me é servido. Corro com Mariana a beber todos os vinhos da alegoria do viver. Sei que estou belo e meu riso espalha-se como confete a colorir caras tristes e amarradas que não compreendo muito bem. Vagamente me lembro de ter visto outras assim, mas onde? Não sei, esqueci. Como podem se arrastar em meio a tanto esplendor? Que irritação me provoca esta gente amesquinhada, tenho vontade de dar uns socos e estou de saco cheio de tudo e todos os tristes do mundo. Mariana é a salvação com sua gargalhada alta e solta, com ela encontrarei as velas do meu barco. O amor é delícia na qual me lambuzo.
Idéias magníficas ocorrem-me num carrossel de possibilidades, estou consciente de que é rara tal concentração de energias e vislumbres, devo aproveitar minha criatividade, sei que qualquer coisa que imagine se realizará. Tenho certeza. Largo meus planos para olhar o céu, tem dias em que o azul é mais intenso, hoje é um deles. Hoje todas as cores são intensas.
O telefone. Melhor fixar o céu, telefone dá azar. Não para, uma droga. Sinto fúria. E se for?... Não tem porque, mas é.
- Meu filho, Fabiano... Recebi a fatura do cartão de crédito, compraste um carro. Fabiano, como pudesses fazer isso? E agora, o que faço? Fabiano, não estás bem, te conheço, tens que voltar imediatamente para casa. Fabiano! Alô! Alô?
Como ele consegue adivinhar a hora errada de me procurar? Pego a cadeira e jogo na janela, o barulho de vidro quebrado me dá mais raiva.
- Merda, tinha que quebrar esta merda? Não volto de jeito nenhum, nem manietado. Não respeita minha individualidade, este velho caduco, mas eu mostro a ele. Quero Mariana, só ela me entende, me aceita, me ama. Adoro Mariana. Tomaremos um porre. Comemoração. Dois... Três?

Dois dias depois, meu pai está à minha frente, fala devagar. Os olhos de alfinete perfuram meu cérebro me perguntando coisas idiotas, falam muito mais alto do que suas palavras que mal escuto:
- Porque paraste o remédio, Fabiano? Sabias que viria outra crise, se pelo menos tivesses tomado durante a depressão! Preciso te levar meu filho, não tenho escolha, por mais que para mim também seja terrível.
Levar o cacete! Só morto! Minha fúria é assassina, preciso livrar-me dele, senão voltará milhares de vezes. Estou pensando muito calmamente em como farei isso, é importante pegá-lo desprevenido. Fecho-me no banheiro e corto os pulsos ou enforco-me com a cinta enquanto ele fica aqui esperando? Com a cinta acho boa idéia e uma terrível sensação de inutilidade me domina. Minhas pernas tremem e já acendi quatro cigarros, um no toco do outro. Fumo mais um e digo que vou ao banheiro.
Sinto mãos me segurando pelos ombros e impedindo-me pelos pulsos. Olho meu pai, estranhas lágrimas escorrem por sua cara, balbucia alguma coisa. Seriam desculpas?
É o remanso, a hecatombe, o espaço vazio.
Não é um engano.



Vana Comissoli

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

MONÓLOGO SOBRE A PAZ




Vem cá, senta aqui ao meu lado. Tenho uns segredos que gostaria de partilhar contigo. Segredos são coisas boas, visitas na alma onde quase ninguém foi ainda.
Isso, é bom que queiras partilhá-los comigo. Para que o mistério te penetre tão fundo quanto ele habita em mim, é preciso que repouses a cabeça no meu colo e esqueças quem és. Deixa que tua alma liberte-se dos impedimentos da razão. Esquece o passado, o futuro e, principalmente, o hoje. Tu és apenas esse bater de coração e esse vazio de pensamentos. Talvez, se quiseres, és esse tamborilar de chuva e o piar de um pássaro desavisado, mas isso não é muito importante.
Importante mesmo é que estejas preso apenas pelo segredo, desejando entrar nele como uma criança deseja brincar sem medo.
Eu quero te falar sobre paz. Poderíamos filosofar sobre ela e recolher estudos de pensadores, visionários e místicos. Se escolhermos essa forma estaremos matando o espírito da paz, portanto, vamos apenas deixar que ela cresça em nós. Quanto mais aquietares teus pensamentos, dúvidas e felicitações, tanto mais ela nos tomará e será o sangue que corre em nossas veias, a brandura que amolece nossos músculos.
Paz não é exatamente um sentimento, mas um estado. Ainda bem, eu diria, senão quando eu sentisse tristeza, não poderia senti-la em paz; quando eu tivesse alegria, não poderia vivê-la em paz.
Muitas vezes perguntei-me olhando o mundo desencontrado que me rodeia se poderia atravessá-lo em paz.
Há tanto o que fazer, é preciso sobreviver todos os dias. E acordar, e comer, e vestir e falar. Que distância da paz há nisso tudo, pensava eu quando era em parte. Onde e como encontrar esse estado perdido?
Aceitando, em primeiro lugar, parando de me debater com os acontecimentos, sejam eles quais forem.
Aceitando - me perguntas - sem reagir, sem lutar?
- Por favor, não sejas infantil, eu disse para vires criança e não infantil. Bem sabes que não se vive sem lutar. Já pensaste em lutar em paz? A força multiplica-se, o objetivo deixa de ser o principal, o fim não é o mais importante, mas como chegar a ele é que se torna importante. Se a tua luta deixar de ser um embate e tornar-se uma travessia, o fim, seja lá qual for, será o melhor de todos.
E se o fim for a morte, me perguntas. A morte não é um fim em si, é apenas outra travessia para um estado impalpável que só podemos conhecer quando estivermos nele, portanto, nem assim debater-se é a melhor maneira.
E se morrer meu bem amado? Sendo mesmo teu bem amado, como podes querer retê-lo num corpo que morre? Sendo teu bem amado, hás de querê-lo livre rumo ao seu destino infinito que não nos pertence. Mas terás tristeza nessa hora, que bom, era teu bem amado e sentirás a saudade de suas marcas em ti.Vive em paz tua saudosa tristeza, até compreenderes que as marcas jamais se apagarão.
Mais adiante sentirás horror frente a um assassino ou bandido, sinta teu horror em paz, tudo o que fere a natureza merece horror. Não o recrimines por ser bandido, ele jamais experimentou a paz não sê-lo.
O filho fere teu coração e sentes a preocupação impotente da paternidade já que “filhos são flechas lançadas e tu és o arco que se dobrou para lançá-las”. Vive tua preocupação em paz, luta verdadeiramente para auxiliá-lo no seu momento de escuridão por direito e escolha, mostrando a ele o teu amor incomensurável. Ouve-o para que possas perceber onde a paz se rompeu dentro dele.
O trabalho de todo o dia é uma rotina que te abafa? Faça-o em paz, esse é um dos compromissos que a vida cobra. Deixa de lado as irritantes exigências da insatisfação, sente quando é hora de parar por minutos e olhar o céu, ou ouvir teus pensamentos cantores. Mas só os cantores, não dês ouvidos aos pensamentos que xingam e rompem. Os dois estão sempre à nossa disposição, nós é que os escolhemos, não eles a nós.
O peso de outra vida está sobre ti como um karma insuportável? O que é karma nesse mundo em perpétuo movimento? Não poderias aliviar o peso dando-te conta que é apenas mais um fato da vida? Pobre criatura que te pesa, não tem a paz de sustentar-se sozinha, de bastar-se. Pobre dela, perdida no mundo do medo e do desconhecido.
Mas na doença não podemos ter paz, retrucas agora. Se não houver paz na doença e na aceitação da falibilidade do corpo, não encontraremos jamais o espírito imortal que o habita. Se fosse o corpo incorruptível, jamais nos daríamos ao trabalho de procurar além dele.
Quando realmente vemos a face do Eterno? Quando tudo está nos seus lugares e nos extasiamos de bem estar passageiro, ou quando, no desassossego de nossa alma, espiamos o Incompreensível em busca de entendimento?
Tira do teu dia alguns minutos preciosos para conectar com a paz que existe dentro de ti e que não descobrisses ainda, para que possam atravessar, de braços dados, todos os momentos.
Afinal, qual é o segredo, me perguntas, impaciente.
O segredo é que não existe segredo algum, só nós mesmos nos descobrindo dia a dia, cada vez menos distantes do Impossível, cada vez mais aptos a viver a paz, companheira de nossas vitórias, lutas e aflições.
Não atormentes tua paz descrendo dela, deixa que viva em ti para que possas reconhecê-la permanente, mão direita do que chamamos Divina Providência que não mora nas nuvens distantes, mas dentro do coração.






Vana Comissoli

MEMORANDO DE DEUS


Vejo que choras.
Teu choro atravessa a escuridão, infiltra-se pelas nuvens, mistura-se com a luz das estrelas e chega ao meu coração, na trilha de um raio de sol.Angustiei-me pelo grito de uma lebre estrangulada no laço de uma armadilha, um pardal caído do ninho materno, uma criança que se batia indefesa num lago, um filho que derramava seu sangue na cruz.Sabes que te escuto. Fica em paz.. Acalma-te.Eu trago o alívio para o teu pesar, pois sei qual é a causa e a cura.Choras por todos os teus sonhos de infância, que desapareceram com os anos.Choras por todo o teu amor próprio, que foi corroído pelo fracasso.Choras por todo o teu potencial, que foi barganhado por segurança.Choras por toda a tua individualidade, que foi pisoteada pelas multidões.Choras por todo o teu talento, que foi desperdiçado pelo uso errado.Encaras a ti mesmo com vergonha e te voltas, apavorado, da imagem que vês refletida na superfície da água. Quem é esse deboche de humanidade que te fita, com os olhos descorados de vergonha?
Onde está a graça dos teus modos, a beleza de tua figura, a rapidez de teus movimentos, a clareza de tua mente, a eloqüência da tua língua? Quem roubou os teus bens? A identidade do ladrão é tua conhecida, como é de mim?Certa feita colocaste tua cabeça em um travesseiro de grama, no campo de teu pai e fitaste uma catedral de nuvens, e soubeste que todo o ouro da Babilônia seria teu, com o tempo.Certa feita leste em muitos livros e escreveste em muitas tábuas, convencido além de qualquer dúvida de que toda a sabedoria de Salomão seria igualada e ultrapassada por ti.E as estações transformaram-se em anos, até que tu reinasses supremo, em teu próprio jardim do paraíso.Lembras-te de quem implantou esses planos e sonhos e sementes de esperança em ti? Não podes lembrar. Não tens recordação daquele momento, quando surgiste pela primeira vez no ventre de tua mãe e coloquei minha mão em teu cenho macio. E do segredo que cochichei em tua pequena orelha, quando leguei minhas bênçãos a ti?Lembras-te do nosso segredo? Não podes lembrar. Os anos passados destruíram tua recordação, pois te encheram o espírito de medo, dúvida, ansiedade, remorso, ódio, e onde essas feras habitam, não há espaço para recordações alegres.
Não chores mais. Estou contigo e este momento é a linha divisória da tua vida. Tudo que se passou antes não parece mais do que com este tempo em que dormiste dentro do ventre de tua mãe. O que é passado morreu. Que os mortos sepultem os mortos. No dia de hoje, regressas dos mortos-vivos. No dia de hoje, como Elias com o filho da viúva, eu me estendo sobre ti três vezes e voltas a viver. No dia de hoje, como Elisha com o filho do shunamita, ponho minha boca sobre a tua, meus olhos sobre os teus, minhas mãos sobre as tuas, e tua carne volta a se aquecer.No dia de hoje, como Jesus no túmulo de Lázaro, ordeno-te que saias, e tu sairás andando de tua caverna do destino, afim de começar a vida nova. Este é o dia do teu nascimento. Esta é a tua nova data de nascimento. Tua primeira vida, como uma peça de teatro, foi apenas ensaio. Desta vez a cortina subiu. Desta vez o mundo observa, espera para aplaudir. Desta vez não fracassarás. Acende as tuas velas. Divide o teu bolo. Serve o vinho. Tu renascestes!Como uma borboleta saída da crisálida voarás tão alto quanto quiseres e nem as vespas, nem as libélulas, nem os louva-a-deus da humanidade obstruirão tua missão ou tua procura pelas verdadeiras riquezas da vida.
Sente minha mão em tua cabeça. Escuta minha sabedoria. Deixa-me partilhar contigo, mais uma vez, o segredo que ouviste ao nascer e esqueceste. "És o meu maior milagre". És o maior milagre do mundo.Foram estas as primeiras palavras que ouviste. Depois, choraste. Todos choram.Não acreditaste em mim nessa ocasião e nada aconteceu nos anos decorridos, para corrigir tua descrença. Como podias ser um milagre, quando te consideravas um fracasso nas tarefas mais comuns? Como podias ser um milagre, quando tinhas pouca confiança ao lidar com as mais banais responsabilidades? Como podias ser um milagre, quando te achavas acorrentado pela dívida e ficas acordado, atormentado, para saber de onde virá o pão de amanhã?
Basta. O leite derramado azedou. Mesmo assim, quantos profetas, quantos homens sábios, quantos poetas, quantos artistas, quantos compositores, quantos cientistas, quantos filósofos e mensageiros enviei com a mensagem de tua divindade, teu potencial para a divindade e os segredos da realização? Como foi que os trataste?Ainda assim eu te amo e estou contigo agora, por meio destas palavras, a fim de cumprir o profeta que anunciou que o Senhor voltará a por a mão pela Segunda vez, afim de recuperar o resto de sua gente.Eu recoloquei a minha mão.
Esta é a Segunda vez.Tu és o que me resta.De nada adianta perguntar; não soubeste, não ouviste, não te foi contado desde o início, não o compreendeste, desde os fundamentos da Terra?Tu não soubeste; não ouviste; não compreendeste.A ti foi dito que és uma divindade em disfarce, um deus se fazendo de tolo. A ti foi dito que és uma obra especial, nobre na razão, infinita em faculdades, precisa e admirável em forma e movimentando-se como um anjo, como um deus na apreensão. A ti foi dito que és o sal da terra.Recebeste o segredo até mesmo de mover as montanhas, executar o impossível.Não acreditaste em ninguém. Queimaste o teu mapa da felicidade, abandonaste teu direito à paz de espírito, apagaste as velas que haviam sido colocadas ao longo de tua trilha destinada de glória; depois cambaleaste, te perdeste e te assustaste na escuridão da futilidade e autocomiseração, até tombares em um inferno da tua própria criação.Depois choraste, bateste no peito e amaldiçoaste a sorte que te havia sido dada. Tu te recusaste a aceitar as conseqüências de teus próprios pensamentos mesquinhos, feitos indolentes, e procuraste um bode expiatório, para a ele incriminar por teu fracasso. Com que rapidez o descobriste!
Tu me incriminaste, a Mim! Gritaste que tuas deficiências, tua mediocridade, tua falta de oportunidade, teus fracassos eram a vontade de Deus.Estavas errado! Examinemos. Vamos, antes, relacionar as tuas deficiências, pois como posso pedir-te que construas uma vida nova, se não tiveres as ferramentas?És cego? O Sol se ergue e se põe sem que o vejas? Não. Podes ver. E os cem milhões de receptores que coloquei em teus olhos capacitam-te a desfrutar a mágica de uma folha, um floco de neve, um lago, uma águia, uma criança, uma nuvem, uma estrela, uma rosa, um arco íris e a expressão do amor. Conta uma benção.
És surdo? Pode uma criança rir ou chorar sem que escutes? Não. Tu ouves. As vinte e quatro mil fibras que coloquei em cada um de teus ouvidos vibram com o vento nas árvores, as ondas que se desmancham nas rochas, a majestade de uma ópera, a súplica de um pássaro, crianças brincando e as palavras: EUTE AMO. Conta outra benção.
És mudo? Teus lábios se movem e só emitem saliva? Podes falar como nenhuma outra de minhas criaturas, e tuas palavras podem acalmar os raivosos, animar os desanimados, encaminhar o desalentado, alegrar os infelizes, aquecer os solitários, louvar os dignos, encorajar os derrotados, ensinar os ignorantes e dizer: “EU TE AMO”. Conta outra benção.
És paralítico? Tua forma inerme esbulha a terra? Não. Tu podes mover-te. Não és uma árvore condenada a um local enquanto o vento e o mundo abusam de ti. Podes espreguiçar-te, comer dançar e trabalhar, pois dentro de ti coloquei quinhentos músculos, duzentos ossos e sete milhas de fibras nervosas, todos sincronizados por mim, a fim de fazerem o que queiras. Conta outra benção.
Não és amado e não amas? A solidão te engolfa, noite e dia? Não, não é mais assim. Pois agora conheces o segredo do amor, que, para se receber deve ser dado sem qualquer idéia de retribuição. Amar para obter realização, satisfação ou orgulho não é amor. Amar é um bem pelo qual não se exige retribuição alguma. Agora sabes que amar sem egoísmo constitui tua própria recompensa. E mesmo que o amor não seja retribuído, não se perde, pois voltará a ti e abrandará e purificará o teu coração. Conta outra benção. Conta duas vezes.
O teu coração está abalado? Ele vaza e se esforça para manter a tua vida? Não. Teu coração é forte. Toca em teu peito e sente o teu ritmo, pulsando, na hora, dia e noite, trinta e seis milhões de batidas a cada ano, ano após ano, adormecido ou desperto, bombeando teu sangue por mais de sessenta mil milhas de veias, artérias e capilares, bombeando mais de seiscentos mil galões por ano. O homem nunca criou máquina assim. Conta outra benção.
Estás com doenças de pele? As pessoas se voltam e fogem apavoradas à tua aproximação?Não. Tua pele está limpa, é uma maravilha da criação, precisando apenas que a trates com sabão, óleo, escova e cuidados. Com o tempo, o mais forte dos metais se desgastará com o uso, mas não essa camada que constituí em volta de ti. Ela se renova constantemente, as células antigas substituídas pelas novas, exatamente como o ser antigo que és tu, te vês agora substituído pelo novo. Conta outra benção.
Teus pulmões estão poluídos? O alento da vida luta para entrar em teu corpo? Não. Tuas portinholas para a vida sustentam-te até nos mais conspurcados ambientes de tua própria feitura e sempre trabalham para filtrar o oxigênio que dá a vida, enquanto livram teu corpo de detritos gasosos. Conta outra benção.
Teu sangue está envenenado? Acha-se diluído em água e pus? Não. Dentro de 5 litros de sangue encontram-se 22 trilhões de células sanguíneas e dentro de cada célula encontram-se milhões de moléculas, e dentro de cada molécula há átomos oscilando mais de 10 milhões de vezes por segundo. A cada segundo, 2 milhões de tuas células sanguíneas morrem, sendo substituídas por outros dois milhões, em uma ressurreição que prossegue desde o teu primeiro nascimento. Conta outra benção.
És deficiente mental? Já não podes pensar por ti próprio? Não. Teu cérebro é a estrutura mais complexa do universo. Eu sei. Dentro de seu um quilo, existem 13 bilhões de células nervosas, número três vezes maior que o de pessoas em tua Terra. Estão aptos para ajudar-te a guardar cada percepção, cada som, cada sabor, cada cheiro, cada ato que vivenciastes desde o dia do teu nascimento, eu implantei, dentro de tuas células, mais de mil milhões de moléculas de proteínas. Cada incidente em tua vida está ali, esperando apenas a tua chamada. Para auxiliar teu cérebro no controle do teu corpo, eu espalhei, por toda a tua forma, quatro milhões de estruturas sensíveis à dor, quinhentos mil detectores de tato e mais duzentos mil detectores de temperatura. Nenhum ouro de nação alguma se acha melhor protegido do que tu.
Nenhuma de tuas amigas maravilhosas é melhor do que tu.Tu és a minha melhor criação.Dentro de ti existe energia atômica suficiente para destruir qualquer das grandes cidades do mundo e...reconstruí-la.És pobre? Não existe ouro ou prata em tua bolsa? Não. Tu és rico! Juntos acabamos de contar a tua riqueza. Examina a lista. Volta a contá-la. Calcula os teus bens!
Por que te traíste, a ti próprio? Por que afirmaste, aos gritos, que todas as bênçãos da humanidade te haviam sido tiradas? Por que te enganaste a ti próprio, afirmando que estavas impotente para modificar a tua vida? Estás destituído de talento, sentidos, capacidades, prazeres, instintos, sensações e orgulho? Estás destituído de esperança? Por que te encolhes nas sombras, um gigante derrotado, esperando apenas um transporte para o vazio bem-vindo e a umidade do inferno?Tu tens tanto! Tuas bênçãos transbordam em tua taça e tu não dás atenção a elas. Como uma criança mimada e no luxo, pois eu as conferi a ti com generosidade e regularidade.Responde-me. responde a ti mesmo. Que homem , rico, velho e doente, fraco e indefeso, não trocaria todo o ouro em seu cofre pelas tuas bênçãos, a que deste tão pouca importância?
Toma conhecimento, então, do primeiro segredo da felicidade e êxito; o de que possuís, agora mesmo, todas as bênçãos necessárias para alcançares grande glória. Elas são o teu tesouro, tuas ferramentas com que construir, a começar de hoje, o alicerce para uma vida nova e melhor. Assim sendo, eu te digo: conta minhas bênçãos e já sabes que és minha maior criação. Esta é a primeira lei a que deves obedecer, afim de executares o maior milagre do mundo, o regresso da tua humanidade vinda da morte viva.E sê reconhecido por tuas lições aprendidas na pobreza. Pois não é pobre aquele que tem pouco, mas aquele que deseja muito e a verdadeira segurança não está nas coisas que se possui, mas nas coisas sem as quais não se pode viver.Onde estão as deficiências que produziram teu fracasso? Existiam apenas em tua mente. Conta as tuas bênçãos.
E a Segunda lei é como a primeira, proclama tua raridade. Tu te condenaste a um refugo de olaria e lá estavas, incapaz de perdoar o teu próprio fracasso, a te destruir com ódio o ti mesmo, auto-recriminações e revolta por teus crimes contra ti mesmo e outros. Não estás perplexo? Não te espantas com o motivo pelo qual posso perdoar teus fracassos, tuas transgressões, teus modos deploráveis quando tu não podes perdoar a ti próprio?
Eu te falo agora por 3 motivos. Precisas de mim. Não és um em uma manada que marcha para a destruição em massa parda de mediocridade. Tu és uma grande raridade.Examina uma pintura de Rembrandt, um bronze de Degas, um violino de Stradivarius ou uma obra de Shakespeare. Eles tem grande valor por 2 motivos: seus criadores foram mestres e são poucos em número. No entanto, existem mais do que um de cada um deles. Por esse raciocínio, tu és o tesouro mais valioso da face da Terra, pois tu sabes quem te criou e existe apenas um de ti. Nunca, em todos os 70 bilhões de seres humanos que caminham neste planeta desde o início dos tempos, houve alguém exatamente igual a ti. Nunca, até o fim dos tempos, haverá outro tal como és.
Tu não demonstraste conhecimento ou apreciação por tua singularidade. No entanto, tu és a coisa mais rara do mundo.De teu pai, em seu momento de amor supremo, fluíram inúmeras sementes de amor, mais de quatrocentos milhões em número. Todas elas, ao nadarem dentro de tua mãe, perderam o ânimo e morreram. Todas, menos uma! E essa eras tu. E começaste uma vida nova. A tua vida. Tu chegaste, trazendo contigo, como faz toda criança, a mensagem de que eu ainda não estava desanimado do homem. Duas células agora unidas em milagre. Com todas as combinações à minha ordem, iniciando-se com aquele espermatozóide isolado de seu pai, um de quatrocentos milhões, passando pelas centenas de genes em cada um dos cromossomos de tua mãe. Eu poderia ter criado trezentos mil milhões de seres humanos, cada qual diferente do outro.Mas, a quem eu criei? A ti! Um único. O mais raro dos raros. Um tesouro sem preço, dotado de qualidades mentais, de fala e movimento, aparência e atos, como nenhum outro já existiu, existe ou existirá. Porque te avaliaste em centavos , quando vales todo o tesouro de um rei? Porque ouviste aqueles que te diminuíam e, muito pior, porque acreditaste neles? Escuta. Não esconda mais tua raridade na escuridão. Trazei-a à luz.. Mostra ao mundo. Esforça-te para não caminhar como o teu irmão caminha, nem falar como teu líder fala, nem trabalhar como trabalha o medíocre. Jamais faça como o outro. Nunca imites. Pois nunca sabes se vais imitar o mal. Aquele que imita o mal sempre vai além do exemplo estabelecido, enquanto que aquele que imita o bom, sempre fica aquém disso. Não imites ninguém. Sê tu próprio.
Esta é portanto, a Segunda lei. Proclama a tua raridade. E agora recebeste duas leis. Conta tuas bênçãos. Proclama tua raridade. Não tens deficiências. Não és medíocre. Obriga-te a sorrir. Reconhece como te enganaste a ti mesmo. Que me dizes da tua própria queixa? A oportunidade nunca te procura?Escuta, e ela passará a te procurar, pois agora eu te dou a lei do êxito em todos os empreendimentos. Há muitos séculos, esta lei foi dada a teus antepassados, do cimo de uma montanha. Alguns ouviram a lei, e vê, sua vida preencheu-se com os frutos da felicidade, realização, ouro e paz de espírito. A maioria não deu ouvidos, pois procurava meios mágicos, caminhos dévios, ou esperou pelo demônio chamado sorte para que lhe entregasse as riquezas da vida. Esperou em vão, assim como tu esperaste, e depois chorou, como tu choraste, atribuindo sua falta de sorte à minha vontade.A lei é simples. Jovem ou velho, indigente ou rei, negro ou branco, homem ou mulher... todos podem utilizar o segredo com vantagem, pois, de todas as regras e discursos e escrituras de êxito e como alcançá-la, apenas um método jamais falhou...quem quer que te obrigue acompanhá-lo por uma milha...acompanha-o por duas.
Esta, portanto é a terceira lei. O segredo que produzirá riquezas e aclamações além dos teus sonhos. Anda mais uma milha!
O único meio certo de êxito é prestar mais e melhor serviço do que esperam de ti, não importa qual seja tua tarefa. Este é um hábito seguido por todas as pessoas vitoriosas, desde o início dos tempos. Assim sendo, eu te mostro o caminho mais certo para te condenares à mediocridade, qual seja executares apenas o trabalho pelo qual és pago.Não creias que estás sendo tapeado, se entregares mais do que a prata que recebes. Pois existe um pêndulo para toda a vida, e o suor que entregas, se não for recompensado hoje, voltará amanhã duplicado. O medíocre nunca anda mais de uma milha, pois deixa de ver o motivo pelo qual deve tapear a si próprio, ao que acredita. Mas tu não és medíocre. Andar mais uma milha é privilégio do qual deves te apropriar por tua própria iniciativa. Não podes, não deves evitá-lo. É negligenciar, fazer apenas tão pouco quanto os outros, e a responsabilidade por teu fracasso será apenas tua.Não podes mais prestar serviços sem receber compensação justa do que podes impedir a prestação deles sem sofrer a perda da recompensa. Causa e efeito, meios e fins, dementes e fruta não podem ser separados. O efeito já floresce na causa, o fim preexiste no meio, e a fruta está sempre na semente.
Anda mais uma milha.
Não te preocupes, caso venhas a servir a um senhor ingrato. Serve-o mais.E em vez dele, que seja eu quem se encontra em tua dívida, pois então saberás que cada minuto, cada gesto de serviço a mais será pago. E não te preocupes, caso tua recompensa não venha logo. Quanto mais tempo retarda o pagamento, melhor para ti...e juros compostos sobre juros compostos são o maior benefício dessa lei.Não podes ordenar o êxito, apenas o podes merecer...e agora conheces o grande segredo necessário para merecer a sua recompensa rara.
Anda mais uma milha!
Onde está esse campo do qual tu gritaste, choraste, dizendo que não havia oportunidade? Olha! Olha ao redor. Vê onde ainda ontem espojavas nos detritos da autocomiseração, agora caminhas bem ereto, sobre um tapete de ouro. Nada mudou, apenas tu, mas tu és tudo.Tu és meu maior milagre. Tu és o maior milagre do mundo. E, agora, as leis da felicidade e êxito são três. Conta tuas bênçãos! Proclama tua raridade! Anda mais uma milha!Sê paciente com o teu progresso. Contar tuas bênçãos com gratidão, proclamar tua raridade com orgulho, percorrer mais uma milha e depois outra, tais atos não são realizados ao piscar de um olho. No entanto, aquilo que adquires com mais dificuldade é que reténs por mais tempo; como aqueles que adquiriram uma fortuna são mais cuidadosos com ela do que aqueles aos quais ela chegou por herança. E não receies ao ingressares em tua vida nova. Cada aquisição nobre é acompanhada por seus riscos. Aquele que receia encontrar-se com uma não deve contar obter a outra. Agora sabes que és um milagre.
E não existe medo em um milagre.
Orgulha-te. Não és o capricho momentâneo de um criador descuidado, fazendo experiências no laboratório da vida. Não és o escravo de forças que não podes compreender. Não és a manifestação livre de nenhuma outra força senão a minha, de nenhum outro amor senão o meu. Foste feito com um intuito.Sente minha mão. Ouve minhas palavras. Precisas de mim e eu preciso de ti. Temos um mundo a reconstruir, se tal requer um milagre, o que é isso para nós? Ambos somos milagres e agora temos um ao outro.Nunca perdi a fé em ti, desde aquele dia em que primeiro te fiz de uma onda gigantesca e te atirei, indefeso, sobre as areias. Em tua medida de tempo, tal ocorreu há mais de quinhentos milhões de anos. Muitos foram os modelos, muitas as formas, muitas as dimensões, até que eu atingisse a perfeição em ti.
Não fiz qualquer outro esforço para aperfeiçoar-te em todos esses anos.
Pois como se poderia aperfeiçoar um milagre? Tu eras uma maravilha a contemplar e eu me satisfiz. Dei-te este mundo e o domínio sobre ele. Dei-te o poder de imaginar. Depois, a fim de te capacitar a alcançar teu pleno potencial, coloquei minha mão em ti, mais uma vez e dotei-te de poderes desconhecidos a qualquer outra criatura do Universo, até o dia de hoje.Dei-te o poder de pensar. Dei-te o poder de amar. Dei-te o poder de querer. Dei-te o poder de rir. Dei-te o poder de imaginar. Dei-te o poder de criar. Dei-te o poder de planejar. Dei-te o poder de falar. Dei-te o poder de orar.Meu orgulho em ti não conheceu limites. Eras minha criação suprema, meu milagre maior. Um ser vivo completo, criatura que pode ajustar-se a qualquer clima, a qualquer vicissitude, a qualquer desafio. Criatura que pode cuidar de seu próprio destino sem qualquer interferência minha. Criatura que pode traduzir uma sensação ou percepção, não por instinto, mas por pensamento e deliberação, levando-a a qualquer ato que fosse melhor para ela e para toda a humanidade. Assim chegamos à Quarta Lei de êxito e felicidade . Eu te dei um poder mais, poder tão grande que nem mesmo meus anjos o possuíam. Eu te dei o poder de escolher. Com este Dom, coloquei-te acima até mesmo dos meus anjos eles não tem a liberdade de escolher o pecado. Dei-te o controle completo sobre o teu destino. Eu te disse para determinares, por ti próprio, tua própria natureza, de acordo com tua própria vontade livre. Nem divino, nem terreno em natureza, estavas livre para modelar-te na forma que preferisses. Tinhas o poder de escolher a degeneração para formas mais baixas de vida, mas também tinhas o poder, pelo juízo de tua alma, de renascer nas formas mais elevadas, que são divinas. Nunca retirei o teu grande poder, o poder de escolher. O que fizeste com esta força tremenda? Olha para ti mesmo. Pensa nas escolhas que fizeste em tua vida e lembra, agora, aqueles momentos amargos em que cairias de joelhos se, ao menos, tivesses a oportunidade de voltar a escolher. O que passou, passou. Agora, tu conheces a Quarta grande lei da felicidade e êxito. Usa com sabedoria o poder da tua escolha.
Escolhe amar... em vez de odiar.
Escolhe rir... em vez de chorar.
Escolhe criar... em vez de destruir.
Escolhe perseverar... em vez de desistir.
Escolhe louvar... em vez de difamar.
Escolhe curar... em vez de ferir.
Escolhe dar... em vez de roubar.
Escolhe agir... em vez de lamentar.
Escolhe crescer... em vez de apodrecer.
Escolhe orar... em vez de amaldiçoar.
Escolhe viver... em vez de morrer.

Agora sabes que teus infortúnios não foram a minha vontade, pois todo o poder estava depositado em ti, e o acúmulo de feitos e pensamentos que te colocaram no refugo da humanidade foram tua obra, não minha. Meus dons de poder foram grandes demais para tua natureza pequena. Agora tu te tornaste alto, sábio, e os frutos da terra serão teus. És mais do que um ser humano. És capaz de grandes maravilhas. Teu potencial é ilimitado. Quem mais, entre minhas criaturas, conquistou o fogo? Quem mais, entre minhas criaturas, conquistou a gravidade, perfurou os céus, dominou a doença e a pestilência e a seca? Nunca mais voltes a te diminuir! Nunca mais te conformes com as migalhas da vida! Nunca mais escondas teus talentos, a partir deste dia! Lembra-te da criança que diz: "quando eu for grande..." Mas o que é isso? O menino grande diz: "Quando eu crescer..." E quando crescido diz: "Quando eu me casar..." Mas estar casado, o que é isto, afinal? O pensamento transforma-se então para: "Quando eu me aposentar..." E então, chega a aposentadoria, e ele lança o olhar sobre a paisagem que atravessou; o vento frio sopra sobre ele e, de algum modo, ele perdeu tudo aquilo, e o que queria desapareceu. Desfruta este dia, hoje e amanhã, amanhã. Executaste o maior milagre do mundo. Voltaste de uma morte viva. Não mais sentirás autocomiseração, e cada dia será um desafio e uma alegria. Tu renasceste, exatamente como antes, podes escolher o fracasso e o desalento, ou o êxito e a felicidade. A escolha é tua. A escolha é exclusivamente tua. Eu só posso observar como sempre com satisfação, ou pesar. Lembra-te, então, das quatro leis da felicidade e êxito.
Conta tuas bênçãos.
Proclama tua raridade.
Anda mais uma milha.
Usa sabiamente o teu poder de escolha.
E mais uma, para completar as quatro outras. Faz todas as coisas com amor. Amor por ti próprio, amor por todos os outros, amor por mim. Enxuga tuas lágrimas. Estende a mão, apanha a minha, põe-te ereto. Deixa-me retirar as mortalhas sepulcrais que te envolviam. Neste dia, foste notificado.
TU ÉS O MAIOR MILAGRE DO MUNDO!


Livro: "O maior milagre do mundo"
Og Mandino

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domingo, 13 de janeiro de 2008

ORAÇÃO DE SÃO FRANCISCO





Senhor, fazei-me instrumento de vossa paz.

Onde houver ódio, que eu leve o amor,

Onde houver ofensa , que eu leve o perdão,

Onde houver discórdia, que eu leve a união,

Onde houver dúvida, que eu leve a fé,

Onde houver erro, que eu leve a verdade,

Onde houver desespero, que eu leve a esperança,

Onde houver tristeza, que eu leve a alegria,

Onde houver trevas, que eu leve a luz.

Ó Mestre,

fazei que eu procure mais consolar que ser consolado;

compreender que ser compreendido,

amar, que ser amado.

Pois é dando que se recebe é perdoando que se é perdoado

e é morrendo que se nasce para a vida eterna...






sábado, 12 de janeiro de 2008

UM FANTASMA PALPÁVEL

Tropecei logo na entrada e embolei no chão. Todo mundo olhou e, de novo, eu era a mulher na vitrine, o frio conhecido da vergonha me deixou estatelada por alguns minutos, o enfermeiro me pegou pelo braço e puxou-me. Só ele sabia que eu estava sóbria. Pelo menos das outras drogas.

Gritei e esperneei quando meu marido exigiu minha internação:
- Não uso nada! Tu que és um cretino filho da puta! Eu tenho que falar mil vezes que estou limpa?
Alguns cacos de vaso bateram nele, o resto se espalhou pelo tapete. Consegui ouvir ao longe, obstruído pelos rumores de minha mente, a porta do quarto de George bater. Ele tinha dezesseis anos e seus ouvidos não suportavam mais os ecos caóticos de minha embriaguez. Mas, foda, eu não usava mais nada, deixara a cocaína na segunda internação e a maconha na terceira. A macoinha que me deixava tão leve. Eu deixei, mas ainda acho uma asneira, todo mundo sabe que é medicamentosa, relaxante. Eu reconheci a dependência... que eu tinha das opiniões. Fora tão humilde! Aceitara minha submissão.
De álcool? De álcool, eu não tinha. Uns tragos, como todo mundo e só.
Que culpa tinha se a cabeça desparafusava e precisava de álcool para funcionar? Não é fácil criar três filhos, dois adolescentes e Rafael, meu anjo loiro de quatro anos.
Quando acordei e vi a sujeirada, fiquei perplexa: O que teria Hélio feito naquela noite? Brigamos e deitei-me emburrada, era minha lembrança pálida. Mas o vaso? Jamais quebraria esse precioso presente de casamento que eu amava.
Fui para a cozinha, furiosa, direto para a máquina de lavar, o esconderijo que ninguém descobrira, a roupa suja encobrindo a vodka. Hélio foi atrás. Não vi, já tinha bebido meia garrafa e eram dez horas da manhã, ainda tinha muito que fazer.
Arrancou a bebida da minha mão e minha cara estalou com o tapa ardido e vil. Saiu dizendo que não sabia se voltava para o almoço. Ou nunca mais.
- Que se dane, tu és um pai de merda, não senta com os guris para estudarem, eu preciso fazer tudo e só quero descansar um pouco.
- George, leva o lixo para a rua que a mãe não pode agora!
Levar lixo... E se eu tropeço? E se a vizinha vê? E se vem falar comigo e sente o cheiro? Dilemas... Dilemas. Sou um poço de dilemas e dificuldades. Todas entregues de presente grego por todo mundo. O mundo é fodido. Eu não, eu saco tudo.
Tinha outro problema hoje: descobrir um novo lugar para esconder a bebida. Já testara todos, o único bom que sobrara era a máquina. Atrás dos livros... não, todo mundo mexe. Banheiro da empregada? Fraco, a enxerida veria. Embaixo do sofá. Boa!
Parei no meio do caminho, tinha uma tática melhor e me deixariam em paz.
Peguei as duas garrafas que sobraram no meio das roupas, despejei na pia, tomei um gole, outro, o coração sangrando, emborquei o último e lambi o gargalo. Ai, maldita! Tudo por ti, Hélio. Me agarrava a essa esperança.
Saí pé ante pé, espiando para trás a intervalos.
O mercado ficava a algumas quadras que pareceram quilômetros infindáveis. Meu corpo doía e pesava seiscentos quilos. A cabeça começava a latejar naquela batida de bongô conhecida e insuportável. Tinha o acréscimo que ninguém podia me ver. Estava com os cabelos em total desalinho, o rosto franzido e assustado. Afinal cheguei.
- Bom dia, Dona Laura.
Arreganhei um sorriso odiando o empacotador parado na porta. Como é que esses filhos da puta lembravam sempre da gente? Porra, que merda mesmo.
Estiquei-me um pouco, se ficasse ereta não notariam meus olhos vermelhos. Baixei a cabeça e engrenei direta ao corredor do material de limpeza. Fácil e rápido.
No caixa a menina nem me olhou, por via das dúvidas resolvi esclarecer:
- Dia de limpeza e com esse tempo prometendo chuva tem que lavar tudo com álcool, né?
Ela sorriu e balançou a cabeça. Pelo menos uma concordava. Aproveitei para esclarecer mais:
- Estou com uma gripe danada. A febre me deixa de olhos vermelhos, até parece que eu bebi. Imagina, que besteira!
A moça me olhou diferente desta vez e eu azulei para a rua.
Escondi o saco de compras embaixo do casaco e voltei perscrutando em torno igual a um ladrão. Sem me dar conta que roubava a mim mesma.
De noite dei uma desculpa e deitei cedo, a gripe, a febre, qualquer coisa. Uma dor de cabeça! Tens que ir à escola por mim, Hélio, é dia de reunião dos pais.
Sete horas da noite era demais para mim, já estava quase no apagamento, as coisas tinham perdido a nitidez há algum tempo e não sabia se tinha apagado o fogo na cozinha. Também não me importava com isso. Incendeie-se a casa!
Dormi até às quatro da manhã. Acordei mareada, os lábios queimados e ressequidos. A garganta machucada. Fui me agarrando até o banheiro, tinha uma sede terrível. A água voltou aos borbotões. O álcool, só ele me recomporia, desci as escadas bem devagar, o corrimão como anjo da guarda. Se eu rolasse faria um barulho dos infernos.
Olhei os pratos na pia, a sujeira, a sopa queimada na panela e restos de pizza comprada. Comecei a chorar. Eu era mesmo uma miserável. A sensação de falência plena me atrelou de novo. Odiava isso, não conseguia controlar a desgraçada vontade de beber. Queria, bem que queria, mas não dava. No café da manhã tomava uma... Duas... Três. Até perder a conta e nada mais importar coisa alguma. Isso acontecia há cinco anos e ficava cada vez pior. Agora o álcool de cozinha só facilitaria, eles não suspeitariam que eu houvesse chegado a esse ponto. Me tornaria a mulher 96 graus. Uma heroína de histórias de terror.
Emagrecia a olhos vistos e a diarréia não me dava paz. Tinha começado a evacuar sangue. Sentia medo e bebia. Sentia vergonha e bebia. Sentia fraqueza e bebia.
Caí doente, minhas pernas não conseguiam me sustentar e eu não dobrava os dedos das mãos.
Acho que foi então que Hélio deixou de brigar e me olhava com aquela expressão que era muito pior do que a fúria: piedade. Ele tinha pena de mim. Eu parecia um paria aos olhos dele e isso era um corte fino de estilete. Sentia uma raiva poderosa e me arrastava, às vezes rastejava, atrás do álcool. Quando acabou fui obrigada a entrar em abstinência. Uma ansiedade e um medo coadjuvante se apoderaram de mim e as paredes se encheram de larvas. Devia ser porque eu não limpava mais a casa. O problema se tornou tenebroso quando as larvas começaram a andar em cima da cama. Tinha pavor só em pensar que pudessem me tocar.
Levaram-me ao médico, psiquiatra ou sei lá o que:
- Me diga o que sente dona Laura.
- Raiva, muita raiva. Uma raiva desgraçada de não conseguir parar de beber, de não ser mais como antes quando era uma tonturinha boa e companheira. De não saber quem me olha no espelho.
Levantei-me, ele não teve tempo de me segurar e dei com a cabeça na parede. Escorreu sangue de minha testa.
Não existe remédio para isso, me disse enquanto secava meu sangue e me acomodava de novo na poltrona. - Mas vou lhe dar vitaminas, se sentirá melhor.
Senti-me mesmo, em sete dias eu já voltava ao mercado e fazia minhas compras.
É só um gole, me prometia. Disfarçava de todas as maneiras, varria um pedaço da sala, só mais um. Cortava carne deixando a vassoura pelo caminho. Só mais um. Maquiava o hálito com bala, cravo, alho.
A garrafa emborcava vazia. Abria outra: só mais um.

Hélio me encontrou no sofá, me disse, quando acordei sem saber como tinha chegado à cama:
- Laura, é internação ou vou embora com os meninos. E tem que ser a definitiva. Cansamos.
Fui. As pernas fraquejaram e embolei na entrada.
Sessenta dias, sessenta noites, sessenta infernos. Todos os dias quebrando o espelho torcido em que me refletia.
Capotada, nua, falida, eu gritei:
- Sou alcoólatra!
O choro convulsivo banhou minha alma despedaçada.
As portas da salvação se abriram.

Hoje faço oito anos de lucidez, espero minha família chegar do trabalho, da escola. Sento-me arrumada e cheirosa, meus cabelos estão presos no alto da cabeça e eu sorrio para mim mesma. Eu estou, sou bonita. Olho a sala onde as coisas estão nos seus lugares. Meu diploma de Pedagogia faz par com uma foto dos companheiros de AA.


Vana Comissoli