quinta-feira, 3 de julho de 2008

LUZ


A LUZ QUE ESTÁ DENTRO DE TI É SUFICIENTE



Quando estás determinado a seguir teu coração, tudo em ti te torna suficiente e capaz para dar início ao que desejas. Deixa que teu ser descanse nesta escolha e aos poucos, atento e perspicaz, segue o que te fala ao eu. Há que tomar cuidado com tuas criações mentais, elas passam a ter vida própria quando as alimenta e, dependendo do que tu cries podes, depois, ter dificuldades para eliminá-las do teu caminho. Tudo que crias volta para ti mesmo: A discórdia, a alegria, a raiva, a inveja, o amor, o perdão...

Creia que a dependência também foi tua criação e, portanto podes descriá-la. Se te faltou forças é porque não as quiseste criar. Se te faltou luta é porque não quiseste lutar. Se te faltou apôio é porque não os quiseste aceitar.

Pensa, na janela de teu coração centrado, o que queres criar para tua vida daqui para a frente.

Tua vida te pertence, não pertence ao álcool, à cocaina, ao crack, ou qualquer desses terríveis vampiros. Tua vontade, amparada por tantos que te estendem a mão tem força para criar um novo futuro e não este que te assombra nas dobras da noite.

Aprende a ser amoroso para contigo e teus irmãos. Dá amor aos que te amam, dá amor aos que parecem não te amar. Este é o estado divino. Desta forma, adquires proteção contra as energias que não estão na mesma freqüência que a tua. E energias podem ter a feição de traficante, de garrafas, de becos onde te escondes. Mostra tua luz. Se assim queres, assim farás. E vá seguro, porque a luz que está em ti é suficiente. Sempre.

Posso enxergar tua luz dentro de ti esperando que a tragas para fora, parra a confiança e a coragem de enfrentar teus fantasmas que pode ser apenas lençóis esvoaçando.

Crê em ti. Pode não ser fácil porque tu não criaste esta confiança ainda, mas ela está apenas esperando que tu a cries.

quinta-feira, 19 de junho de 2008

RECAÍDA


RECAÍDA


A recaída é a sombra que acompanha todos os alcoólicos em recuperação. Parece que espreita em cada curva de nosso caminho e temos razão em não menos prezá-la. Muitos companheiros já sofreram duramente seus golpes e alguns soçobraram acabrunhados pela sua força.
Pensemos os aspectos que contribuem para que a Recaída aconteça. Este deve ser um sério e profundo mergulho dentro de nós mesmos, onde a honestidade é nossa maior arma.
Assim como a Recuperação é individual a recaída também é. Existem generalizações, mas a individualidade é que será o ponto decisivo de funcionamento.
Às vezes é um processo sutil e lento. Em outras, ela em como uma tempestade que nos leva de roldão. Mas sempre, sempre começa dentro de nós. Os sinais que apresenta podemos listar da seguinte maneira:
OS 12 PASSOS PARA A RECAÍDA

CADA RECAÍDA TEM UMA ORIGEM, CONHEÇA OS SINTOMAS DE PERIGO.


01. COMECE A FALTAR AS REUNIÕES PORQUE QUALQUER MOTIVO: REAIS OU IMAGINÁRIOS.

Pense, com honestidade, se você deixaria de comparecer a algum programa descontraído porque estava com dor de cabeça ou seu time vai jogar. Pense se abandonaria uma reunião de trabalho ou estudo porque está cansado, ou está chovendo.

02. CRITIQUE OS MÉTODOS UTILIZADOS POR OUTRAS PESSOAS, POR NÃO ESTAR EM COMPLETO ACORDO COM OS QUE VOCÊ EMPREGA.

Neste momento, pense que você “esqueceu” que cada um tem sua Recuperação particular, portnto é natural que haja pequenas diferenças individuais e que seu “jeito” serve apenas para você. O máximo que pode fazer é trocar experiências e, assim como deseja que seu companheiro experimente seu método, tende a humildade de experimentar o dele se realmente está tendo resultados cosntrutivos e não apenas de “fechamento de garrafa”.

03. ALIMENTE A IDÉIA DE QUE, ALGUM DIA, VOCÊ PODERÁ BEBER NOVAMENTE E CONVERTER-SE EM BEBEDOR CONTROLADO.

Você realmente ainda alimenta essa prepotência? Revise sua Recuperação, algo não vai bem. Ainda o álcool é tão necessário que você não pode, nem que controladamente, afastar-se dele?
A idéia de que o mundo inteiro está errado e apenas nós é que sabemos das coisas é extremamente infantil e o resultado será igualmente infantil, no caso da dependência alcoólica, fatalmente infantil.

04. DEIXE QUE OS OUTROS MEMBROS DE SEU GRUPO FAÇAM O TRABALHO DO DÉCIMO SEGUNDO PASSO POR VOCÊ.

Os passos são individuais e intransferíveis, são tão profundos que passaremos o resto de nossas vidas os repetindo e muitos, terão que repetir desde o primeiro, portanto ninguém pode caminhar por você. Você quer recuperar o domínio e a liberdade de sua vida, caminhar com suas pernas faz parte deste processo. Tendo aprendido isso através da dor e do desespero você se negaria a tirar poucos momentos de sua vida que estava perdida para estender a mão para um irmão de caminhada? O que teria acontecido a você se não tivesse havido alguém que se dispusesse de seu tempo para conversar e ajudar você? Seu irmão caído é você no passado, leve-o para o futuro luminoso que você vive hoje, dispondo-se a transmitir a mensagem.

05. ADQUIRA CONSCIÊNCIA DE SUA "ANTIGUIDADE" E OLHE CADA RECÉM CHEGADO
COM CETICISMO E IRONIA.

Existirá alguém tão pretensioso que se julgue conhecedor de todos os mistérios da vida? A Irmandade dos A.A faz parte de um desses mistérios e os caminhos da alma humana são bifurcados e escondidos demais para nos alçarmos em conhecedores dela. Portanto, sua caminhada feita não justifica sua prepotência junto ao recém chegado, deve ser motivo de felicidade para você e para o recém chegado será Esperança. Não negue ao seu irmão a mão da Esperança, ela poderá fugir de você e não faça por este medo, faça por compaixão, a qual já lhe foi tão útil, talvez tenha sido sua bóia de salvação.

06. SINTA-SE SATISFEITO COM SEUS PONTOS DE VISTA A CERCA DO PROGRAMA E CONSIDERE-SE UM "VELHO MENTOR".

Nossos olhos estarão vivos e agudos enquanto estiverem abertos para novas possibilidades, novos enfoques porque o que enxergamos jamais será o Todo, assim como jamais enxergaremos a Deus, mas apenas seus movimentos dentro de nós. Sempre seremos um Caminhante na longa estrada do aprendizado, tanto mais que já escorregamos na bifurcação da dependência. Jamais saberemos tudo ou deixará de existir algo para aprender. Se você aceita que os 12 passos de A.A são perfeitos, significa que a extensão deles não pode caber numa só passagem, mas que temos aprender e voltar a aprender.

07. ORGANIZE DENTRO DE SEU GRUPO UM "CLÃ", UM "GRUPINHO" DE POUCOS MEMBROS QUE COMPORTEM ABSOLUTA E TOTALMENTE SUAS IDÉIAS.

Mas não esqueça que estará organizando sua “separação” do mundo, um deslocamento bem pouco saudável na medida em que aprendemos com os que concordam conosco, mas muito mais com os que não concordam porque funcionam como sinalizadores de nossas inacabáveis fragilidades. É o que não suportamos ou não queremos ver em nós mesmos e, se forem facetas já superadas por nós, podemos olha-las sem temor, quem sabe, com isso, ajudando nosso companheiro a aparar suas arestas.

08. DIGA EM SEGREDO AO RECÉM CHEGADO, QUE VOCÊ NÃO TEM NECESSIDADE DE LEVAR ALGUM OU ALGUNS DOS DOZE PASSOS A SÉRIO.

Você recebeu tão pouco auxílio que é capaz de, na chegada, contaminar a caminhada de seu companheiro? O que está faltando dentro de você para se arvorar em mestre? Esta é uma caminhada para os fortes e honestos e não para os que tem medo de ver a si mesmos e reconhecer suas pontiagudas imperfeições. Forte não é aquele que grita ou impõe, forte é o que sabe ouvir para se melhorar e transmitir. O forte partilha e não retira ou tenta construir o outro á sua semelhança como se tivesse, em sua insanidade a pretensão de igualar-se a Deus.

09. PERMITA QUE SE APROFUNDE EM SUA MENTE A GRANDE AJUDA QUE VOCÊ PRESTA A OUTRAS PESSOAS, E NÃO LEMBRE QUE O PROGRAMA DE ALCOÓLICOS ANÔNIMOS ESTÁ AJUDANDO VOCÊ.
Se você está ajudando outras pessoas isso é maravilhoso, você estará ajudando a você mesmo porque, cada vez que fala sobre os benefícios e as transformações criadoras que aconteceram em sua vida, você estará reafirmando sua recuperação. E sua recuperação deve-se, em grande parte, à sua aceitação incondicional ao programa dos 12 Passos de A.A. E este programa continua, incessantemente, ajudando você na medida que lhe dá a oportunidade de auxiliar seus irmãos.


10. DESQUALIFIQUE DE IMEDIATO, O MEMBRO QUE TENHA SOFRIDO UMA RECAÍDA.

Apenas os insanos e os débeis têm a suprema ousadia de dizer: “Desta água não beberei”. Pobre deles que não conseguem enxergar sua dimensão falível e humana. Tão maravilhosa e tão perfeita, ao mesmo tempo, que as quedas estão à nossa frente para nos ensinar que somos todos irmãos e que poderemos, um dia, estar caídos esperando uma mão estendida. Seu companheiro recaiu? Puxe-o de volta para o firme e poderoso carro do A.A e não esqueça de limpar suas vestes para que se sinta digno de estar tentando novamente e todos os dias durante 24 horas.

11. CULTIVE O HÁBITO DE EMPRESTAR OU PEDIR DINHEIRO EMPRESTADO A SEUS COMPANHEIROS E COMECE A SE AFASTAR DAS REUNIÕES, PARA EVITAR ENCONTROS DESAGRADÁVEIS.

Seus companheiros não são Banco e grande parte deles ainda sofre a devastação deixada pelo alcoolismo, refazendo sua vida econômica arduamente. Viva de acordo com suas posses, seja digno do nome de Homem. Respeite suas fraquezas e não se entregue à facilidade de estender a mão pedinte. Mesmo que seu companheiro tenha posses não é obrigado a servir você, seus bens são fruto da vida dele e não da sua. Caso um companheiro lhe veja em dificuldade e tenha a grandeza e a oportunidade de lhe ajudar, aceite com o objetivo honesto, ético e moral de devolver. Não entre em situações que o enfraqueceram enquanto em recuperação e enquanto ser humano.

12. CONVENÇA-SE DE QUE O PROGRAMA DE 24 HORAS É VITAL PARA OS "NOVOS", E DE QUE VOCÊ JÁ "SUPEROU" ESSA ETAPA.

Todos somos sempre “novos” dentro de A.A se a Recuperação em nós estiver enraizada. Todos os dias temos algo aprender, mesmo com o companheiro que chega alquebrado, no mínimo para termos certeza do que não queremos mais vivenciar. Cada depoimento, cada idéia ou funcionamento é uma descoberta que devemos respeitar e a ela ser gratos. Quem, todos os dias, abre os olhos sabendo que milagres de revelação podem acontecer será para sempre um digno discípulo dos mandados de Jesus, o maior Mestre que já existiu, creiamos Nele enquanto divindade ou não.
Se você superou alguma etapa seja grato à sua força e coragem, mas sabendo que muitas mais, infinitas mais se descortinam à sua frente para que você tenha a deliciosa chance de crescer até que chegue sua hora de mencionar os resultados diante de uma outra vida que agora não nos pertence ainda.

Na leitura destes passos demarcados por análise, podemos encontrar qual, ou quais deles se movimentam dentro de nós antes que possam se manifestar e assim nos prevenindo contra o assustador monstro da Recaída que, com nossa atenção e humildade passará a um ratinho administrável.
Tenha a certeza: tanto a Recuperação quanto a recaída tem morada dentro de nós e a nós cabe alimentar ou uma ou outra.
As armas que temos são a consciência, a coragem de enxergarmo-nos, a confiança em Deus e a fé inabalável em Sua criatura: nós, seres humanos caminhando, não mais a esmo, mas com o caminho iluminado pela Luz de A.A. Seres humanos não mais paralisados pela negritude da dependência, mas livres, como livres fomos feitos para escolher entre o Bem o Mal, o Bom e o Ruim. Todos nós trazemos o livre arbítrio como escudo, a decisão como arma e o discernimento como sinalizador.


Vana Comissoli

segunda-feira, 7 de abril de 2008

PIPOCAS DA VIDA




Rubem Alves - psiquiatra


"Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho para sempre. Assim acontece com a gente. As grandes transformações acontecem quando passamos pelo fogo. Quem não passa pelo fogo, fica do mesmo jeito a vida inteira. São pessoas de uma mesmice e uma dureza assombrosa. Só que elas não percebem e acham que seu jeito de ser é o melhor jeito de ser. Mas, de repente, vem o fogo. O fogo é quando a vida nos lança numa situação que nunca imaginamos: a dor.
Pode ser fogo de fora: perder um amor, o pai, a mãe, perder o emprego ou ficar pobre. Pode ser fogo de dentro: pânico, medo, ansiedade, depressão ou sofrimento cujas causas ignoramos. Há sempre o recurso do remédio: apagar o fogo. Sem o fogo o sofrimento diminui. Com isso a possibilidade da grande transformação também. Imagino a pobre pipoca fachada dentro da panela, lá dentro cada vez mais quente, pensa que sua hora chegou: vai morrer.
Dentro de sua casca dura, fechada em si mesma, ela não pode imaginar um destino diferente para si. Não pode imaginar a transformação que está sendo preparada para ela. A pipoca não sabe aquilo de que é capaz. Aí, sem aviso prévio, pelo poder do fogo a grande transformação acontece: BUM! E ela aparece como uma outra coisa completamente diferente, algo que ela mesma nunca havia sonhado.
Bom, mas ainda temos o piruá, que é milho de pipoca que se recusa a estourar. São aquelas pessoas que, por mais que o fogo esquente, se recusam a mudar. Elas acham que não pode existir coisa mais maravilhosa do que o jeito delas serem. A presunção e o medo são a dura casca do milho que não estoura. No entanto, o destino delas é triste, já que ficarão duras a vida inteira. não vão se transformar na flor branca, macia e nutritiva. Não vão dar alegria para ninguém".

________________________________________________________________________________


Enquanto ficamos parados em nossa dor, nos lastimando, acusando ou buscando fugas para não senti-la, continuamos milho duro sem serventia. E é exatamente nessa resistência, na película dura do milho que o fogo não se apaga. O consumirá.
Deixar que o calor do fogo nos penetre, fazendo com que nos transforme está a glória do desabrochar da pipoca. Imediatamente o fogo se acalma e podemos nutrir todos à nossa volta.
O milho de pipoca não sabe o que guarda dentro de si, não conhece a pipoca e tem medo do que possa aparecer. O que provoca a neurose e o endurecimento é o medo do desconhecido, pode que a transformação seja melhor, mas o desconhecido é tão assustador que o milho prefere não ousar, mesmo o mal e o ruim, é conhecido e ele escolhe a permanência no estado original. No entanto, a felicidade mora no estado de transformação. A vida se abre para quem quer vivê-la.
Fomos feitos para o eterno aprendizado, cada dia uma nova experiência, uma nova descoberta. Não permiti-las é enclausurar-se, riscar calendário, mas não viver os dias.
Você já experimentou ser diferente? Você já se deu essa oportunidade? Mesmo se forçando um pouquinho você já tentou sorrir? Já desparafusou a cara ao encontrar as pessoas em vez de começar a falar em como tudo está ruim?
Você tentou ser diferente e cumprimentar até quem você não conhece? Bater um papo com o vizinho que desce no mesmo elevador que você?
Quando lhe ofendem, você já tentou tirar um "sarro" de quem lhe ofendeu, mostrando que o outro pode estar errado?
Você já experimentou não ter os grandes segredos dos erros guardados?
Você já se convenceu que é: "Nascido para Vencer"?







domingo, 16 de março de 2008

SUBSTIUIÇÃO




RELAÇÃO ADICTIVA E SUBSTITUIÇÃO


Tendo a personalidade adictiva maturado e sobrepujado o Eu verdadeiro que tenderá a diminuir e, nos casos fatais, a desaparecer, a relação adictiva se estabelece com força.
Análise sobre os meandros da relação adictiva estão especificados em outro artigo centrado nesse assunto. Agora analisaremos a SUBSTITUIÇÃO.
Quando um adicto não aceita real e profundamente sua condição de dependente que o levará a desenvolver seu Eu verdadeiro, pode ter aceitado um "vício" achando que este solucionado tudo ficará bem. A doença da Dependência é mais séria e muito mais mesquinha e trágica do que isso.
Esse é um artigo experimental baseado na observação de um caso estabelecido nas bases que serão aqui apresentadas.
Um adicto na ativa que se conscientiza do mal que o objeto de adicção está lhe provocando poderá fazer grande esforço para reduzi-lo a níveis aceitáveis, ainda assim a doença se manterá intocada uma vez que trabalhou apenas o externo. É nessa condição que a Substituição se estabelece.
Os caminhos mais comuns são de substituir o objeto de adicção, por exemplo, o álcool, por jogo, comida, etc. O mesmo acontece com as drogas onde o usuário ficará pulando de uma para outra e até mesmo chegará à dependência de remédios. Espera-se que seja pelos psicotrópicos e assemelhados, mas há casos em que o objeto de adicção foi deslocado para o inocente analgésico. Em superdoses pode provocar a buscada alteração de humor e levar à sonolência bem vinda para o adicto. A sonolência é o destino final de fuga para os problemas ou situações psíquicas que não consegue controlar ou administrar. Em última instância é a fuga do sofrimento.
É comum que um adicto encontre outro adicto para parceiro, muitas vezes essa convivência simbiótica se rompe se o parceiro for um usuário mais violento e com isso dará ao outro a noção de perigo que atravessam. Então, o mais lúcido diminuirá sua cota de objeto de adicção, mas não se livrará da doença e seu objeto de adicção passará a ser o parceiro.
É comum que não o ame e nem se apiede realmente, mas não rompe a relação. É como se estivesse na frente de um copo ou de uma dose: sabe aonde chegará, mas se mantém fiel. A compulsão impede que haja um real rompimento uma vez que não trata a doença.
A compulsão é a ferramenta mestra da Dependência, é ela que mantém o adicto aprisionado. Só chegando às raízes de sua personalidade adictiva adquirida na primeira infância dentro do meio familiar onde se desenvolveu é que consegue controlá-la. Isso é conquistado pela consciência da dependência e por psicoterapia. Os remédios auxiliares aliviarão a pressão para que haja movimento da parte do adicto em direção à recuperação, mas não curam. Esse ponto é nevrálgico. OS REMÉDIOS NÃO CURAM.
A situação de co-dependência estabelecida dentro deste tipo de relação permite que o usuário continue seu uso livre do controle imposto pelas famílias. As etapas de comportamento reativo das famílias inexistem. O parceiro não estimula a recuperação para não perder seu próprio objeto de adicção que é o outro.
Como se dá tal transferência?
Antes de mais nada é importante analisar o script de vida do adicto. Normalmente desenvolveu a adicção para escapar da dor de se sentir deslocado, imprestável para o mundo que o cerca. É o que podemos chamar de desvalidação. O processo é extremamente doloroso. É a total anulação da capacidade de se desenvolver enquanto ser humano e, principalmente a incapacidade de concorrer com seus iguais. Sempre será o último da fila. Provavelmente, na infância, foi substituído por alguém que considerou melhor ou mais capacitado para usufruir o amor dos pais.
Ao se estabelecer a dependência sobre um adicto sob a aparente forma de salvação do mesmo, necessitaa que este se mantenha adicto. Procura nessa fonte degradante uma validação para si mesmo. Sente-se melhor porque existe alguém mais deteriorado do que ele próprio. É a mudança de humor ansiada para alívio de suas próprias tensões internas.
Como toda a adicção, esta também aumentará com o tempo e o uso, se podemos chamar assim. Na verdade, usar pessoas é mais corriqueiro do que desejaríamos que fosse. Então os malefícios da adicção crescem e a relação se torna quase insuportável, assim como o álcool e a droga destroem o usuário, a convivência destrói o adicto emocional. Ainda assim não abandonará o parceiro e, inclusive, é possível que tente ajudá-lo sabendo que não conseguirá. Se conseguir o jogo se romperá e ele perderá sua "droga" de preferência.
Desmontar a relação estabelecida incluirá mudar o rumo de sua vida ou encontrar outro adicto disposto a partilhar com ele o processo destrutivo. As duas coisas são difíceis e amedrontadoras.
O que existe de trágico nessa dependência é que ela possui muito mais justificativas válidas para o status quo. Como largar a pobre criatura adicta à própria sorte? Se for casal e tiverem filhos, como abandoná-los a essa sorte? E assim por diante. Ao mesmo tempo em que essas justificativas o salvam da decisão de mudança, fazem com que se sinta bem aos próprios olhos: está tentando, não é culpa dele se o outro não colabora mantendo-se agarrado à adicção.
É uma terrível forma de adicção, pois é maquiada por solidariedade com o adicto ativo, preocupação pelas pessoas dele dependentes e não têm nenhum estímulo adictivo químico (se tiver estará sob razoável controle), ou seja, é invisível. E as saídas da situação terão, aparentemente, ingredientes de crueldade, uma vez que será preciso afastar-se do adicto, romper vínculos, estabelecer novas metas, pelo menos até recuperar a si próprio para poder socorrer verdadeiramente o parceiro.
Quanto à questão de ajudar um adicto nunca devemos esquecer que por mais que tenhamos conhecimento claro de sua doença, quem tem que adquirir essa certeza é o próprio adicto e ele é quem definirá sua posição diante da recuperação. O máximo possível é acompanhá-lo pelos caminhos que terá que trilhar. Caminhos novos e, em princípio, de sofrimento até que a consciência da libertação se faça. Mas uma vida inteira de aprisionamento vale mil vezes, os poucos meses de indignação consigo mesmo.
Consciência e admissão da doença e dos processos doentios é a única forma de achar o caminho da recuperação. Caminho árduo que exige coragem, humildade e determinação férrea. E que oferece em troca, tranqüilidade, alegria legítima e crescimento emocional e psíquico.

sábado, 15 de março de 2008

COMPORTAMENTO FAMILIAR


SEQUÊNCIA DE COMPORTAMENTOS PREVISÍVEIS DAS FAMÍLIAS DE DEPENDENTES.
COMPULSIVOS

As famílias, assim como o próprio adicto, têm comportamentos previsíveis uma vez que a dependência, ou a co-dependência, enquanto doença tem seu próprio ritmo.
As etapas percorridas não são, necessariamente, numa ordem fixa, podem pular, retroceder, ser retomadas mais de uma vez. A seqüência apresentada é a mais freqüente, sendo que a Negação é sempre o primeiro estágio. Também não é final indefectível o Distanciamento, é possível estacionar na eterna ajuda.
Não há certo ou errado nesse processo, o que há é o processo em si.
O maior risco para as famílias é se tornarem co-dependentes, ou seja desaprendem de viver sem um adicto em ativa. Não sabem lidar com a situação e, mesmo que haja recuperação, ou até por isso, o relacionamento se deteriora.
O mais adequado seria a família do adicto também procurar ajuda terapêutica, não apenas para aprender a conviver com um adicto como para sanar a si mesma da co-dependência.

As etapas são:

* Resistência/ Negação
A família reluta em admitir o problema. Minimiza com explicações capengas:
- Não, ele não bebe tanto assim.
- É apenas no final de semana.
- Ele não tem mais nada de bom na vida.
- É só quando relaxa.
- É só em festas.
No entanto o adicto, mesmo que não diário, vai até a última gota. Se for na festa terá uma série de comportamentos inadequados, em casa terá alteração de humor que pode passar do nostálgico ao agressivo. Cada adicto tem seu próprio sistema que corresponde à raiz de sua doença.
Nos finais de semana a bebedeira só cessará no domingo de noite. E assim infinitos exemplos.
O mesmo processo acontecerá com as droga. Se o adicto usar maconha, a família alegará que é "uma droga menor". No entanto, a potencialidade da droga usada não é importante, a dependência e seus mecanismos sim.
Se for cocaína, ou outra droga mais pesada o "não ver", "não perceber", até chegar na desculpa permanecerá durante um tempo mais longo.

* Tentativa de Controle
A família tenta impedir o comportamento problemático evitando festas, idas à restaurantes e qualquer outra atividade onde possa ter bebida.
Passa a controlar horários, gastos, saídas (principalmente as noturnas). No caso de filhos gerenciará a chegada e o estado do usuário. É freqüente começarem as inspeções nos pertences, as buscas disfarçadas nas gavetas e bolsos. As perguntas dissimuladas também fazem parte desta etapa:
- Saíste com Fulano ou Beltrano? Te divertiste? Aonde foram?
É comum o controle de quantidade usada se a adicção for socialmente aceita.
- Já bebeste bastante, chega!
- Já tomaste tantos copos.
E assim por diante.
Quando percebe que isso não funciona, geralmente, vem a raiva, o medo e outros sentimentos negativos que serão transferidos ao adicto.

* Ajuda
Procura direta ou indireta de ajuda.
É comum que os familiares proponham ao adicto uma visita a um médico, terapeuta, pai-de-santo, ou padre. Outro método usado é deixar à mão reportagens sobre abuso de drogas e/ou álcool. Descobrir na TV um programa sobre o assunto e ligar bem alto. Se houver ascendência de alguma pessoa amiga ou familiar não tão envolvido, será pedida, frequentemente em segredo, uma conversa com o usuário.

* Decisão
A família começa a questionar a validade de permanecer com o adicto. Esse comportamento é mais freqüente entre cônjuges e quando as separações se estabelecem. O desgaste já atingiu marcas insustentáveis.
O questionamento parte de perguntas como:
- Eu vou continuar com essa pessoa?
- Não estarei pondo a minha própria vida a perder?
- Valerá a pena permanecer? Será que ele ou ela tem jeito?
Esse momento é o mais difícil porque é quando o adicto é abandonado. Ou será suportado e passará a família para a etapa mais dolorosa tanto para o adicto quanto para a própria família.

* Distanciamento
Uma vez tendo decidido permanecer acompanhando o adicto há um "distanciamento". Moram na mesma casa mas, a interação deixa de existir. O adicto passa a ser quase invisível. A vida em comum deixa de existir.
De qualquer maneira, ignorando ou não o adicto a irritação tomará conta da família e é comum que a agressão verbal seja a forma de comunicação. Ou as respostas curtas que cortam toda possibilidade de aproximação.
Essa é a etapa mais difícil de ser trabalhada, as justificativas de ambos os lados se tornaram muito fortes.
Adiciono aqui a experiência ouvida por uma terapeuta especializada em famílias adictivas. Conta ela:
Acompanhando em terapia uma família soube que esta combinara uma viagem conjunta, quando foi interpelada pelo usuário de para onde iriam, respondeu:
- Nós vamos, tu ficas.
É um símbolo muito forte de abandono e total afastamento.
Torna-se difícil reconstruir uma relação emocional de partilha senão houver uma mudança forte por parte do usuário.
As mães são as que agüentam por mais tempo e é comum nunca chegarem nessa etapa de distanciamento total embora tenham grandes chances de se tornarem co-dependentes e sofrerem tanto quanto o adicto.
Quando o adicto é parte de um casal, nesse momento a separação fica inadiável, na verdade a parte que rompe os laços procura a auto preservação e escolhe uma vida saudável.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

RELACIONAMENTOS




Relacionamento é a capacidade, em maior ou menor grau, de relacionar-se, conviver (viver com, viver em comum) ou comunicar-se com o outro. É ligação de amizade, afetiva, profissional, social, etc., condicionada por uma série de atitudes recíprocas.
Atitudes recíprocas... Pensemos sobre isso: Trocas feitas que pertencem a todos os envolvidos. Portanto, começamos a derrubar a noção de responsabilidade única. Nunca somos apenas nós, ou apenas o outro que gera qualquer tipo de relação. É sempre mútuo. Assumamos o que nos compete. Compete a cada um reconhecer suas faltas, fragilidades e assim responsabilizar-se sobre elas.
Esta é uma pedra de toque para qualquer pessoa, para um dependente torna-se quase intransponível.
Faz-se necessário despirmo-nos de preconceitos (conceituar antes) e principalmente da síndrome da verdade absoluta, ou do conhecido “Joãozinho do Passo Certo”. Seja qual for o tipo de relacionamento, ele envolve mais do que um e, portanto, mais de uma verdade.
Sem dúvida para um dependente em recuperação tudo se complica, há muitas coisas a serem sanadas, reorganizadas e transformadas. É nessa hora que a precipitação será a maior inimiga e o discernimento um aliado.
“Quando a dependência ataca, surgem situações anormais que prejudicam o companheirismo e a compatibilidade entre as partes. À medida que as coisas vão piorando, o dependente se transforma numa criança doente e irresponsável, que precisa ser cuidada e tirada de inúmeras embrulhadas e becos sem saída. De forma gradual e geralmente, sem perceber, a esposa é obrigada a se transformar em mãe; os filhos em pais; os amigos em tutores e os esposos em pais. O alcoólico, menino transviado ora ama, ora odeia esses cuidados.”
Qualquer pessoa tem problemas de relacionamento, é o grande desafio do ser humano: relacionar-se. Muitas vezes não consegue sequer relacionar-se consigo mesmo. No dependente, no entanto, o problema se agrava, uma vez que suas dificuldades ficam aumentadas pelo objeto da dependência que corrompe seu raciocínio e amplifica suas emoções, ou as torna nulas. O discernimento simplesmente não existe. O trajeto para entrar em contato com seus sentimentos verdadeiros é mais árido do que para a maioria das pessoas, entendê-los e transformá-los é uma tarefa para toda a vida. Com certeza os resultados deste empenho são extremamente compensatórios, se traduz em serenidade e, frequentemente em alegria e felicidade.
A troca de experiências que um grupo de auto-ajuda, ou melhor, mútua ajuda é de inestimável importância. Para seu total êxito a honestidade, a coragem e a transparência são ferramentas fundamentais. É onde entra, muitas vezes a contra gosto do dependente, o Quarto Passo.
“Qual é o pior item de sua lista? Qual é a coisa, mais do que qualquer outra que você preferiria não me contar?” Perguntou meu padrinho me olhando com firmeza. Ele era conhecido dentro de meu grupo como o “Monstro do Quarto Passo”.
Às vezes podemos nos surpreender como há muitas piores coisas e fica difícil selecioná-las. É preciso perguntar ao coração, onde se esconde a pior, mesmo que não envolva ação, acredito que nunca está na ação. A ação é sempre reação aos sentimentos então a raiz do mais difícil é neles que está guardado o principal ingrediente de nossas doenças emocionais e psíquicas.
O Quarto Passo é uma espécie de reprodução do primeiro porque ainda estamos lidando apenas conosco mesmo, é para nós e a nossa sanidade que precisamos encontrar algumas respostas importantes e chegaremos a elas através da análise de nossas falhas.
A troca de experiência neste momento ajuda a clarear nossos pensamentos e sentimentos tumultuados. A sinalização feita por um companheiro de jornada pode iluminar o caminho e o que era tão difícil torna-se fácil. Aliviar o coração é como descarregar um saco de pedras.
Quando conseguimos nos perdoar criamos uma convivência agradável conosco e ao aumento da auto-estima. A partir daí nos habilitamos a nos relacionarmos com menos mágoas, ressentimentos e sovinice emocional.
Dentro de um grupo de auto-ajuda damos os primeiros passos para a convivência, treinamos a não termos medo de nos expor, a parar de nos esconder atrás da soberba e da pretensão de sermos os absolutos possuidores da verdade e nos preparamos para todos os demais relacionamentos.
O que mais pode interferir nesse processo é o Medo.
O companheiro Bill W. disse:
Quando um bêbado está com terrível ressaca porque bebeu em excesso ontem, ele não pode viver bem hoje. Mas existe um outro tipo de ressaca que todos experimentamos, bebendo ou não.
Essa é emocional, resultado direto do acúmulo de emoções negativas de ontem e, às vezes, de hoje – raiva, medo, ciúmes e outras semelhantes.
Se quisermos viver serenamente hoje e amanhã, sem dúvida precisamos eliminar essas ressacas. Isso não quer dizer que precisamos perambular morbidamente pelo passado. Requer, isso sim, uma admissão e correção dos erros cometidos AGORA.
“Poucas pessoas podem afirmar com sinceridade que amam todo mundo. Quase todos nós precisamos admitir que temos amado apenas algumas pessoas, que temos ido indiferentes a muitas. Quanto às outras, bem, temos tido realmente antipatia ou aversão total delas.”
Nós, dependentes, descobrimos que precisamos de alguma coisa muito melhor, a fim de manter nosso equilíbrio. A idéia de que podemos amar possessivamente algumas pessoas, ignorar muitas e continuar a temer ou a odiar quem quer que seja tem que ser abandonada, mesmo que aos poucos. Provavelmente não chegaremos nunca a um amor incondicional, mas podemos perseguir esse ideal. Bastarmo-nos em dizer que não temos afinidades com esse ou aquele, mas nem por isso expugná-lo da qualidade de ser humano. Tão forte ou frágil; resolvido ou nem tanto; consciente ou alheio, como eu mesmo.
“Podemos procurar não fazer exigências descabidas àqueles que amamos. Podemos demonstrar bondade, onde antes não tínhamos demonstrado. Demonstrar a compreensão que tanto ansiamos. Com aqueles que não simpatizamos podemos começar a praticar cortesia e civilidade, nos esforçando para enxergar por trás dele uma criança tão assustada e falha quanto nós”.
Algumas vezes, quando os amigos nos sinalizam algum comportamento nosso, é com humildade e verdade que devemos prestar atenção, provavelmente estará enxergando o que não podemos ou não queremos enxergar. Não sabemos ainda lidar com nossa Integridade, não estamos ainda uma Unidade, somos aos pedaços. Existem falhas, algumas graves que temos a obrigação de investigar se realmente buscamos, com seriedade e convicção, a serenidade.
A busca de relacionamento honesto e digno poderá acarretar termos que enxergar o outro além de nós mesmos. Esta é uma parte delicada da questão. Olhar o outro sem pré-julgamento, sem levantar culpas e responsabilidades passadas, não é nada fácil. Enxergar as fragilidades do outro sem jogar-lhe na cara é tarefa árdua para qualquer pessoa e muito mais para nós que buscamos, a todo o momento, justificativa para nossas faltas.
Mas relacionar-se é olhar a nós e ao outro e precisamos nos despir primeiro para contaminar o menos possível nossa percepção do parceiro, seja em que área for. Com certeza a franqueza e honestidade de exposição de nosso ponto de vista, feita com delicadeza e equilíbrio é o caminho adequado para apararmos as arestas que surgem inevitavelmente, até com o melhor amigo.



Texto baseado "Na Opinião de Bill"

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

TRATAMENTO DAS DEPENDÊNCIAS QUÍMICAS


É comum os dependentes químicos iniciarem seu tratamento em clínicas especializadas, ou em consultórios psiquiátricos. Faz-se importante dizer que as clínicas, na maior parte dos casos, observam um programa de trinta dias de internação. Durante este tempo o paciente é levado a tomar vitamina B para recompor seu organismo sempre debilitado, acompanhado de substâncias indutoras do sono e controladoras de outros sintomas como: depressão, ansiedade, etc...
Neste momento a medicação é extremamente importante para auxiliar a conter a tensão dos primeiros tempos e reforçar o doente a reunir forças para sua Recuperação.
Segundo Augusto Cury “... o sono é o motor da vida. Ele repara toda energia que gastamos. A sua falta desencadeia ou intensifica muitas doenças psíquicas e psicossomáticas. Você pode tentar remover ou trabalhar as causas de uma insônia, mas não tente por muitos dias. E, não esqueça que você pode brigar com o mundo e sobreviver, mas, se brigar com a cama, perderá. Ah! E não leve seus inimigos para a cama. Perdoe-os, fica mais barato.”
Portanto, esses cuidados são quase vitais para a Recuperação.
É fundamental compreender que as clínicas e os psiquiatras atuam para desintoxicação e conscientização do dependente. Sem a primeira, é quase impossível chegar à segunda.
O tratamento real, que nos ajudará a manter a sobriedade e recuperar nossos pedaços estraçalhados, é a psicoterapia. Sem essa poderemos até parar de ingerir nossa droga de preferência, mas não solucionaremos, ou minoraremos suas raízes.
É muito importante compreendermos que cada etapa vencida é um degrau para a saúde e a felicidade, mas que nunca devemos olhar para o topo da escada. Isso não é importante, se o fizermos, pararemos de subir e o que vale a pena é a subida. A subida nos proporciona desenvolvimento enquanto ser humano, descobertas e aprendizados. Na verdade, a subida é a Transformação.
Podemos até auferir a possibilidade de que nossa doença venha a estar a nosso favor. É possível que dentro da sociedade caótica em que vivemos não encontrássemos tempo de nos indagar sobre nossa humanidade, nossa dimensão. Não encontraríamos tempo de compreender que, dependentes ou não, todos temos algo a descobrir e a sanar. As exigências de nosso tempo quase aceita como saudável ter stress e angústias. Passou a ser normal, mas normal não é, necessariamente, o melhor, ou o saudável. Normal é apenas o que é habitual. Sejamos mais do que normal, SEJAMOS FELIZES E GRATOS PELA VIDA QUE TEMOS.
Quem transformou a vida em sacrifício e dor, foi o ser humano. A vida é o que é: linda, surpreendente e ascendente. Muda é o ângulo de visão, quanto mais distantes da sanidade, mais transversal será esse ângulo.
Ser dependente pode ser a maneira que lhe foi dada para se tornar gente!
Aceite o presente de Deus: seja gente, a melhor possível e sua vida terá cumprido seu objetivo.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

DEPENDÊNCIA QUÍMICA - A DOENÇA

Existem muitas e variadas interpretações do que é a dependência química. A explicação que parece ter mais sentido para a maioria dos que dela sofrem é:
* uma doença progressiva que nunca pode ser curada.
Como algumas outras doenças, porém pode ser detida. Indo um pouco mais longe: a doença representa a combinação de uma sensibilidade física à droga de preferência (álcool, maconha, cocaina, crack, anfetaminas, etc) com uma obsessão mental que, apesar das consequências, não pode ser superada apenas pela vontade.
Antes de entrar para um tratamento, muitos dependentes não conseguem abandonar sua droga de preferência se consideram moralmente débeis e, possivelmente, desequilibrados mentais. Os dependentes são pessoas enfermas, passíveis de recuperação se seguirem um simples programa cem sucedido com outros homens e mulheres.
Uma vez a dependência ter se fixado, não há pecado algum em ser doente. A esta altura, o livre arbítrio inexiste, porque o sofredor já perdeu seu poder de dicir se continua a usa saga, ou não. O importante, porém, é encarar a realidade da própria doença e aproveitar-se da ajuda disponível. Também é necessário que exista o desejo de parar. A exepriência nos ensina que o programa dos Doze Passos funcionará para qualquer dependente, quando este é sincero em seu esforço para abandonar a dependência. Geralmente não funcionará para o homem ou a mulher que não esteja absolutamente seguro que quer parar.
Só conhece a extensão da dor da dependência quem já atravessou este mal. As palavras são pobres para descrevê-la. Devemos respeitar o portador, ouvi-los abertamente e fazê-los deixar de ser passivos de seu caos emocional. Eles precisam aprender a gerenciar seus pensamentos, se proteger de suas emoções e reeditar o filme de suas vidas. É esse respeito e essa protação que se encontra dentro dos grupos de auto-ajuda através dos depoimentos que permitem a exposição de suas dores e vergonhas e da reeducação através do amor e solidariedade de seus membros.
* Adaptado de folheto editado pelos Alcoólicos Anônimos
e do livro O Futuro da Humanidade - Augusto Cury

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

NEUROSE


SOU UM NEURÓTICO?


Você permite que suas emoções interfiram no seu comportamento de forma e grau acentuados?


Essa pergunta você pode responder através do seguinte auto-diagnóstico.

01.Você sofre de depressão, angústia, ansiedade, insônia, medo, solidão e outros sintomas torturantes?

02.Você tem medo de estar sozinha, sair de casa, dirigir um carro ou fazer uma viagem fora de sua cidade?

03. Você se sente diferente ou "deslocada" quando está com outras pessoas?

04. Você freqüentemente negligencia seus afazeres, dorme muito, sente-se constantemente cansada ou sem energias?

05. Você já tentou o suicídio ou pensou seriamente em cometê-lo?

06. Você precisa de tranqüilizantes ou outras drogas (que alteram a mente) para atravessar o dia?

07. Você assume mais responsabilidades do que pode? Tem uma atitude de tudo ou nada?

08. Você vive tenso, incapaz de se relaxar e não consegue dormir?

09.A tensão, a ansiedade e a preocupação afetam seu trabalho?

10.Você sente que outras pessoas não o compreendem ou não compreendem os seus problemas?

11. Você sente que as outras pessoas "estão lhe olhando" quando você trabalha ou quando está em público?

12. Você acha que o seu relacionamento está em perigo?

13. Você tem problemas sexuais?

14. Você sente que a vida já não tem "sentido"?

15.Você fica tão irada que chega a perder o controle?


16.Você entra em pânico quando está sob tensão?

17.Você vive chorando?

18.Você se sente"culpada"?

Se você respondeu SIM a qualquer uma das perguntas acima, é possível que você seja uma pessoa com desequilíbrio emocional.

Se você respondeu SIM a duas perguntas, então é quase certo que você seja uma pessoa com desequilíbrio emocional ou mais apropriadamente uma pessoa neurótica.

Para Neuróticos Anônimos, Neurótica é toda pessoa, cujas emoções interfere em seu comportamento de qualquer forma e em qualquer grau segundo ela mesma o reconheça.

Se você realmente reconhece que é uma pessoa neurótica, apresentamos agora a grande pergunta:

VOCÊ QUER AJUDA?

http://www.neuroticosanonimos.org.br/ http://www.cnpsa.embrapa.br/na


________________________________________


Os grupos de ajuda mútua descobriram que é preciso colocar a recuperação em primeiro lugar.
Além disso é preciso enfrentar durante todo o processo da recuperação três realidades perturbadoras:


1-Que é impotente perante a adicção e que sua vida torna-se incontrolável.

2-Embora não seja o responsável pela sua doença é o responsável pela sua recuperação;

3- Não pode mais culpar pessoas, lugares e coisas por sua adicção.


Permanecer em recuperação significa encarar os seus problemas e sentimentos.
____________________________________________________________________

O mais importante: não se desespere! Você não está sozinho. Somos milhares dispostos a lhe dar a mão.
Busque,
Lute,
Não desista.
E, acima de tudo, CREIA EM VOCÊ.

TABAGISMO


SOU UM ADICTO À NICOTINA?

1-Você fuma todos os dias?

2-Você fuma por sentir-se tímido ou para ganhar auto-confiança?

3-Você fuma para afastar aborrecimentos e preocupações quando está sob pressão?

4-Você já queimou alguma roupa, tapete, móvel ou seu carro?

5-Já lhe aconteceu de ter que sair tarde da noite, ou em algum momento incoveniente, por ter ficado sem cigarros?

6-Você se sente na defensiva ou com raiva quando alguém lhe diz que a fumaça de seu cigarro está incomodando?

7-Algum médico ou dentista já lhe sugeriu que parasse de fumar?

8-Você já prometeu a alguém que iria parar de fumar, e depois quebrou a promessa?

9-Você já sentiu desconforto físico ou emocional ao tentar parar de fumar?

10-Você já conseguiu parar de fumar por um período de tempo, só para recomeçar tudo de novo?

11-Você armazena estoque extra de cigarros para ter certeza de que não vai ficar sem?

12-Você acha difícil imaginar a vida sem fumar?

13-Você escolhe apenas atividades e diversões durante as quais possa fumar?

14-Você prefere, procura ou sente-se mais à vontade na companhia de fumantes?
15-Você se sente intimamente envergonhado de si mesmo ou se despreza por causa de seu hábito de fumar?

16-Você já se percebeu acendendo um cigarro sem ter tomado conscientemente a decisão de fazê-lo?

17-O seu hábito de fumar causou algum problema em casa ou nalgum relacionamento?

18-Alguma vez você já disse para si mesmo que pode parar quando quiser?

19-Alguma vez você sentiu que sua vida poderia ficar melhor se você não fumasse?

20-Você continua a fumar mesmo sabendo do males causados à saúde pelo cigarro?


Se você respondeu "sim" a uma ou duas destas perguntas, há uma chance de você ser, ou estar se tornando, um adicto à nicotina.
Se você respondeu "sim" a três ou mais perguntas, provavelmente você já é adicto à nicotina.
Se deseja Parar de fumar, Fumantes Anônimos pode lhe ajudar. http://www.fumantesanonimos.hpg.ig.com.br/apresentacao.htm

.Procure seu médico, já existem vários medicamentos que podem ajudá-lo. A acupuntura aliada a esforço também será grande parceira.

________________________________________

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

A COMUNIDADE

Uma vez a personalidade adicta instalada, o adepto ativo ou o adicto em recuperação passará a ver o mundo numa perspectiva diferente. Tal como em qualquer doença grave, a adicção é uma experiência que muda as pessoas de forma permanente. É por isso tão importante que as pessoas participem regularmente em reuniões dos Doze Passos e outras reuniões de auto-ajuda; a lógica adictiva permanece bem no fundo delas e procura uma oportunidade para se reafirmar, da mesma forma ou de forma diferente. Os adictos em recuperação continuam a ir em reuniões e a trabalhar no programa porque continuam a ser adictos. A recuperação é a aceitação contínua da adicção e o controle contínuo da personalidade adictiva seja qual for a forma com que se manifeste."
* Personalidade Adictiva -Craig Nakken - Vila Serena - Editora Educaional

TERMO DE RESPONSABILIDADE


Quando alguém, seja onde for, estender a mão pedindo ajuda,

quero que a mão de Grupo de Dependentes Anônimos esteja sempre ali.

E por isso EU SOU RESPONSÁVEL.

PERSONALIDADE ADICTIVA




" O que torna a relação adictiva tão atrativa é a alteração de humor que produz. É garantido, funciona sempre. Nenhuma relação humana pode dar esse tipo de garantia."

"...Lista de ocasiões em que a pessoa está mais suceptível a formar relações adictas:

. perda de pessoa amada;

. perda de status;

. perda de ideais, de sonhos;

. perda de amizades;

. novos desafios sociais;

. isolamento social;

. deixar a família.

. Encontrar a realização emocional ( a adicção é, em última instância a busca de realização emocional) através de um objeto (álcool, drogas,comida, etc...) ou de um acontecimento (compras; jogos, etc...) possa trazer alguma coisa mais do que uma alteração momentânea de humor."


*Personalidade Adictiva - Craig Nakeen - Vila Serena Editora Educacional

PODER SUPERIOR ESPIRITUAL

No âmbito espiritual, acreditamos num poder superior a nós, maior do que nós. Varia de pessoa para pessoa a forma como a espiritualidade é definida. Para certas pessoas, um Poder Espiritual é um Deus pertencente a uma religião; para outras, Deus é a natureza, o Universo, ou um grupo de amigos íntimos que as apoia. Através da relação com um Poder Superior espiritual, aprendemos a compreender e aceitar uma ordem natural, uma corrente natural. Aprendemos a avaliar o importante espaço que ocupamos no mundo e entre os outros seres vivos, mas aprendemos também que somos apenas uma parcela da humanidade. Desta forma aprendemos a observar o mundo e a observarmo-nos com um sentido realista. Desenvolvemos também uma relação para a qual podemos nos voltar quando a família ou os amigos não bastam... Aprendemos o que é confiar e o que é acreditar... Aprendemos a ter fé, o que significa que não precisamos viver apenas para o momento que passa. Aprendemos a acreditar e a confiar que haverá momentos futuros com serenidade e momentos de bem-estar.
*Personalidade Adictiva - Craig Nakken - Vila Serena Editora Educacional

ESPIRITUALIDADE: O QUE É ISSO?



“Será que espiritualidade se refere só a Deus e à religião, ou terá um significado mais lato?

Será a dependência química uma expressão destrutiva de nossa natureza espiritual?”

Ao ingressarmos num grupo de auto-ajuda somos instados a crer que, um Poder Superior conforme o concebemos, pode devolver-nos a sanidade. Que decidimos entregar aos cuidados de Deus nossa vontade e nossa vida.
Muitas vezes essa proposta deixa o iniciante em choque: ele nem sabe o que é Deus! Até a muito pouco tempo seu deus era o objeto de sua adicção.
- E espiritualidade? O que é isso? Terei que entrar em alguma igreja, abraçar alguma religião para conseguir me recuperar?
Essas perguntas podem atormentar e até atemorizar nosso ingresso na sanidade. Para resolver, precisamos compreender a definição ampla de espiritualidade.
“Uma das maneiras de definir é constatando as áreas da vida às quais a espiritualidade se liga:
Espiritualidade tem a ver com a qualidade do nosso relacionamento com quem quer que seja ou o que quer que seja de mais importante em nossa vida”.
Faz parte da condição humana. Todos temos um lado físico e um lado emocional, assim como um lado espiritual. Uma psiquiatra inglesa foi a primeira a aceitar o trilogismo que nos constitui. Nosso lado espiritual nos vincula aos outros seres humanos, através dele fazemos parte de um Todo. Deus é apenas um dos muitos focos espirituais possíveis.
Podemos nos aceitar matéria, uma vez que é palpável e visível. Podemos nos aceitar emoção porque é sensível. Mas temos dificuldade de nos aceitar espíritos porque somos infantis e queremos crer apenas no que podemos tocar, cheirar, ver, degustar ou sentir. Como se o Universo, a Criação, estivesse preocupada com nossas necessidades ou desejos. A Essência existe, queiramos ou não.
No entanto, também é simples perceber nossa espiritualidade se constatamos que está ligada a sentimentos como amor, confiança e compromisso. Por algum tempo depositamos todas essas preciosidades no foco de nossa dependência: amávamos o objeto, ou acontecimento através do qual nos ligávamos ao mundo: álcool, drogas, jogo, comida, cigarro, etc. Esse amor afetava todas as nossas outras áreas de vida: a família, o trabalho, o lazer. Vivíamos uma espiritualidade distorcida e destrutiva.
A palavra “espiritualidade” tem sua raiz em “espírito” que significa, segundo o Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa:
* Parte imaterial do ser humano.
* Alma.
* Pessoa dotada de inteligência ou bondade acima do comum.
* Imaginação, engenho, inteligência, finura.
* Ânimo, índole.
* Graça, humor.
* Idéia predominante; significação, sentido.
* Faculdade de conhecer, de aceitar as coisas.
* Idéia, pensamento, cabeça.
A concepção, assim percebida, aumenta consideravelmente e pode abranger muitos aspectos de nossa vida.
Quando falamos sobre o espírito de equipe de nosso time de futebol, ou no espírito de fraternidade dos grupos de auto-ajuda, compreendemos bem que é o sentimento que une e move as pessoas.
Espiritualidade nos une a alguém ou a alguma coisa que nos dê a sensação de Plenitude. Todo ser humano necessita sentir-se completo. Carl Jung definiu o alcoolismo como “...doença espiritual que tem na sua base um impulso para a plenitude...”.
Por algum tempo, nos sentíamos plenos com o uso de falsos portadores dos deuses: foco de nossa dependência. Falsa plenitude, logo seríamos esquecidos e traídos por ela. O objetivo mais amplo da dependência é a destruição. Nós aceitamos essa imposição porque retiramos de valores dignos e das pessoas, a nossa confiança. Para não sermos traídos, nos entregamos à Traição.
Passamos agora a adquirir um conceito de espiritualidade que nos permite escolher como a conceberemos. O lado magnífico dessa concepção é que, em vez de nos sufocar e se tornar maior do que nosso Eu, ela nos permite expandi-lo ao infinito. Podemos começar a admitir que nosso Poder Superior é o nosso grupo de auto-ajuda, os companheiros com seu carinho e compreensão da qual somos tão necessitados. “Um grupo de pessoas é um poder maior do que nós mesmos, e podemos dar-lhe o poder divino de nos mostrar o que precisamos fazer”.
Podemos olhar o céu numa noite esplendorosa, ou num dia de temporal e sentir a imensidão do Universo e deixarmos que seja ele a nossa Espiritualidade. A partir daí olharemos os seres vivos e deixaremos que nos ensinem com sua pureza e fidelidade à missão para a qual foram criados. A capacidade de embelezar da natureza. A dadivosa doação das plantas. A sabedoria dos animais. O carinho de tantos pela sua prole. E isso de formas múltiplas, quase interminável.
Podemos crer que a Criação é o que governa tudo e poderá nos governar.
Podemos encontrar eco em alguma religião constituída e a abraçarmos sem reservas, seja ela qual for.
Espiritualidade e religião são usadas como se fossem a mesma coisa e não são. Espiritualidade nos liga ao nosso foco de amor e religião é um conjunto de crenças, preceitos, rituais específicos de cada uma como forma de nos aproximarmos de Deus, sendo Este também conceituado segundo tais preceitos. A palavra Religião vem do latim religare, ou seja religar-se, portanto é ligação ou re-ligação com um Poder Superior, sem que haja especificação de forma ou meio. A partir daí temos uma série de religiões que corresponderão a arquétipos que nos sensibilizam, ou não.
Enfim, ao deslocarmos nossa espiritualidade para focos construtivos, podemos concebê-la como quisermos e como melhor fala ao nosso Eu sequioso de desenvolvimento, amor e felicidade.


* Conceitos entre aspas retirados do livreto sobre Espiritualidade - Paul Bjorklund – Hazelden Foundation







quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

AMANTE INFIEL


Quando acordei a luz do dia se apagava, estava tudo em silêncio, os obreiros tinham se ido. Ao meu lado meu amante, uma garrafa vazia, me fitava com olhos vazados.
Compreendi que esse amor sempre me trairia. Como todos os outros.
Chorei despedaçadamente.
Minhas perdas desfilando num bailado grotesco e misturando cores e formas enevoadas pela áurea depressiva que sempre acompanhava meus despertares de ressaca. As paredes se destroçaram e pude ver meu pai, seu sorriso parado, atirado no sofá babando fedor a álcool. O ódio da traição vestido de mulher ali do lado, as unhas afiadas e entrando na carne dele que eu amava.
- Carmela! – gritou o ódio. Tira esse bêbado imprestável daqui!
Eu não tinha forças para levantar meu pai e achava que estava tudo certo, os homens bebem. Era tudo exagero de minha mãe, essa mulher cruel que só escarnecia do marido frágil. Porque meu pai era frágil. Via isso no fundo de seus olhos vermelhos e naquele avô perdido que passeava neles:

- Ele se foi.
Argemiro ouviu a velha mãe, muito mais velha do que a idade, gemer baixinho e acrescentar:
- Foi com ela, com a Benta.
Minha irmã Benta? A Bentinha que brincava de correr atrás das galinhas? Por que ele a levaria? Sei que gostava muito dela, eles tinham os mesmos olhos verdes de campo macio, o mesmo jeito de sorrir de lado, espiar pelos cantos, de suspirar quando se olhavam. Mas levar só a Benta? E eu? E meus cinco irmãos? Por que não nos levou também?
- Uma desavergonhada que merece o pai que tem para amante. Uma vagabunda que eu pus no mundo para me dar vergonha e roubar meu marido.
Minha mãe divagava. Nada disso era verdade. Eles se gostavam, era pai e filha, como poderia ser diferente? Riam tomando banho no ribeirão, ela cheia de cócegas e meu pai gostando de esfregar suas costas com o sabão grosso feito em casa.
Ela cresceu, ficou bonita, desabrochou corpo. Meu pai gostava de ver do maneio dos quadris. Mas eu me dizia que era certo admirar a filha bonita daquele jeito. Os olhos ficaram maiores e mais verdes, chamas verdes queimantes.
Se foram. A barriga de benta crescendo, eu vi. As mulheres sempre engordam de vez em quando. Não é? É sim.

Eu puxei o pai pelo braço e falei coisas boas no ouvido dele:
- Está tudo bem, eu te levo. Me ajuda.
- Filhinha, minha filhinha, igualzinha a Benta. Faz um carinho no papai faz.
Que pai não ama sua filha?
Fomos nos arrastando, os pés dele tropeçando sobre si mesmos. Caímos em cima da cama. Ele nem viu quando tirei seus sapatos. E roncou.
Eu odiava o cheiro azedo que ele tinha, mas os pais bebem, é normal, não é?
Eu odiava a minha mãe, a chamava de sem sentimentos, sempre arrastando as chinelas e dizendo descalabros que eu entendia pelo som e não pelo significado. Minha mãe esgotara tudo nele. Tornou-se oco e vesgo.

Eu estava vesga com a superposição das imagens que invadiam meu quarto, queria levantar, lavar o rosto. Eu precisava, mas o barulho dos gritos era muito alto, insuportável. Calei-os no copo de gim que esquecera, bendito esquecimento, em cima da cômoda. Agora eram apenas sussurros.
- A Benta... Ela fodeu com o pai. Eu tinha espiado uma noite quando acordei com aqueles sons que se repetiam no sono despertado da gente. Meus irmãos calados, um medo e um adivinhar fechando as bocas, os peitos, a esperança.
- Leva este imprestável daqui!
E a roupa dos outros sendo lavada em troca da comida que não chegava nunca.

Paredes são cruéis, falam demais. Elas gritam e preciso tapar os ouvidos. Eu emborco a garrafa vazia e um último pingo é pouco demais. Na cozinha tem, eu lembrei. Chego até lá, eu consigo.
Preparei-me, o corpo obedece a coisas que a gente nem acredita. Abracei-me na garrafa e voltei para o quarto.

As idiotas das paredes continuavam cheias de gente. Eu estava na cama e estava nela. Como pode ser isso? Entender é um desperdício de tempo. Eu não tinha tempo e fiquei me olhando a desfilar na parede.
Não me parecia em nada com minha tia Benta. Não a conheci, mas meu pai me dizia isso e sorria, parecia feliz. Aos poucos fui deixando de ser feliz com ele. Meus amigos riam quando ele chegava e estragava nossa festa. Minha mãe, aquela vaca, é que estragava. Não escondia nada, não disfarçava. Será que não podia enxergar que era melhor não ver? Não mostrar?
- Carmela, pega esse imprestável e leva para a cama!
Eu ficava roxa de vergonha, meus amigos ali, vendo tudo.
Só o Flávio não ria. Ele compreendia. Às vezes me ajudava pegando o pai por um braço e eu pelo outro. Flávio, minha salvação. Ele era tão, tão normal. O pai trabalhava como todo mundo e a mãe fazia bolos fofos, tão bons de comer.
A gente foi crescendo assim, no meio daquele disfarce. A mãe não chorava nunca. Também não beijava e nem perguntava nada sobre mim. Ela permitia tudo e isso era estonteantemente horrível.
A gente foi crescendo, dizendo sim. Sim, eu levo. Sim, eu deixo. Sim, me abusa. Sim, eu não existo. Eu existo. Isso é tudo normal.

Quero morrer. É tudo que eu quero. Flávio é um marido desgraçado, de normal tem um chicote feito de palavras cruéis, um olho afiado que me corta e me joga no silêncio das paredes.
Tia Benta se desprende da argamassa estendendo os braços para mim. Não está mais bonita, está desdentada e me diz:
- Carmela, é assim mesmo, não fiques triste. Teu avô logo, logo volta.
Eu não queria que fosse assim, tudo assim, normal.
Só queria que alguém fosse permanente e que houvesse mesmo um bom abraço e que eu pudesse chorar em paz. Esquecer.
Eu consegui atingir meu objetivo. Eu esquecia todos os dias dentro de ti, minha paixão transparente. Fiel. Sempre ali, ao alcance de minha mão. Minha tesão, meu sonho: a garrafa.

- Tu me traíste, miserável.
O líquido derramou-se manchando o tapete já encardido. A solidão abraçou-me. Essa não me trairia e nunca me abandonaria, enquanto eu pudesse beber minha amante vagabunda.
Não deixaria que me chamassem de imprestável. Jamais.

Entrei no carro e acelerei quando o sinal fechou. As paredes jorraram sangue vermelho campari.

Vana Comissoli

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008


SOU UM ADICTO A DROGAS?



Se você tem alguma dúvida quanto a ser ou não um adicto a drogas as perguntas abaixo podem lhe ajudar. Responda-as o mais honestamente possível.

01. Alguma vez você já usou drogas sozinho?

02. Alguma vez você substituiu uma droga por outra,pensando que uma em particular era o problema?

03. Alguma vez você manipulou ou mentiu ao médico para obter drogas que necessitam de receita?

04. Você já roubou drogas ou roubou para conseguir drogas?

05. Você usa regularmente uma droga quando acorda ou quando vai dormir?

06. Você já usou uma droga para rebater os efeitos de outra?

07. Você evita pessoas ou lugares que não aprovam o seu consumo de drogas?

08. Você já usou uma droga sem saber o que era ou quais eram os seus efeitos?

09. Alguma vez o seu desempenho no trabalho ou na escola foi prejudicado pelo seu consumo de drogas?

10. Alguma vez você foi preso em conseqüência do seu uso de drogas?

11. Alguma vez mentiu sobre o quê ou quanto você usava?

12. Você coloca a compra de drogas à frente das suas responsabilidades?

13. Você já tentou parar ou controlar seu uso de drogas?

14. Você já esteve na prisão, hospital ou centro de reabilitação devido a seu uso?

15. O uso de drogas interfere em seu sono ou alimentação?

16. A idéia de ficar sem drogas o assusta?

17. Você acha impossível viver sem drogas?

18. Em algum momento você já questionou sua sanidade?

19. O consumo de drogas está tornando sua vida infeliz em casa?

20. Você já pensou que não conseguiria se adequar ou se divertir sem drogas?

21. Você já se sentiu na defensiva, culpado ou envergonhado por seu uso de drogas?

22. Você pensa muito em drogas?

23. Você já teve medos irracionais ou indefiníveis?

24. O uso de drogas afetou seus relacionamentos sexuais?

25. Você já tomou drogas que não eram de sua preferência?

26. Alguma vez você usou drogas devido a dor emocional ou “stress”?

27. Você já teve uma overdose?


28. Você continua usando, apesar das conseqüências negativas?

29. Você pensa que talvez possa ter problemas com drogas?


Sou Um Adicto?

Esta é uma pergunta que só você pode responder. Nós, de Narcóticos Anônimos (NA) respondemos “sim” a um número diferente de perguntas. O número de respostas positivas não é tão importante, quanto aquilo que sentimos e a maneira como a adicção afeta nossas vidas.

Se você admite que tem problemas com drogas, e quer se libertar, então você pode caminhar em numa nova estrada. “A estrada da recuperação”. Essa estrada pode ser construída em Narcóticos Anônimos. http://www.narcoticosanonimos.com.br/

Mesmo achando um grupo de auto-ajuda não deixe de buscar um psiquiatra ou terapeuta especializado. Se for recomendada a internação, não se assuste, sua VIDA está em jogo, lute por ela.

Na drogadição, a desintoxicação é importantíssima e difícil de ser atingida, se não nos recolhermos sob o cuidado de equipe capacitada. Parece assustador, mas creia, seria muito mais terrivel fazê-lo sozinho. Quebre os paradigmas:


LUTE!

AS DOZE PERGUNTAS DE ADICÇÃO AO ÁLCOOL












SOU UMA PESSOA ALCOÓLICA?




Existem doze perguntas que podem lhe ajudar no auto-diagnóstico.

01. Já tentou parar de beber por uma semana (ou mais), sem conseguir atingir seu objetivo?

02. Ressente-se com os conselhos dos outros que tentam fazê-lo parar de beber?

03. Já tentou controlar sua tendência de beber demais, trocando uma bebida alcoólica por outra?

04. Tomou algum trago pela manhã nos últimos doze meses?

05.Inveja as pessoas que podem beber sem criar problemas?

06. Seu problema de bebida vem se tornando cada vez mais sério nos últimos doze meses?

07. A bebida já criou problemas no seu lar?

08. Nas reuniões sociais onde as bebidas são limitadas, você tenta conseguir doses extras?


09. Apesar de prova em contrário, você continua afirmando que bebe quando quer e pára quando quer?

10. Faltou ao serviço, durante os últimos doze meses, por causa da bebida?

11. Já experimentou alguma vez ‘apagamento’ durante uma bebedeira?

12. Já pensou alguma vez que poderia aproveitar muito mais a vida, se não bebesse?



QUAL FOI A CONTAGEM?

Respondeu SIM quatro vezes ou mais?
Em caso positivo, é provável que você tenha um problema sério de bebida, ou poderá tê-lo no futuro.

Por que dizemos isto?
Somente porque a experiência de milhares de alcoólicos recuperados nos ensinou algumas verdades básicas a respeito dos sintomas do alcoolismo – e de nós mesmos.
Você é a única pessoa que poderá dizer, com certeza, se deve ou não procurar AJUDA.

Se a resposta for SIM, teremos satisfação em mostrar-lhe como conseguimos parar de beber.
. Procure um Grupo em sua comunidade ou entre em contato com http://www.alcoolicosanonimos.org.br

Parar de Beber Significa EVITAR O PRIMEIRO GOLE, UM DIA DE CADA VEZ.

Procure, imediatamente um terapeuta ou clínica especializada. Não tenha preconceito ou medo. SUA VIDA É MAIS IMPORTANTE!

Se ainda não puder admitir que você tem um problema de bebida, não faz mal. Apenas sugerimos que você encare sempre a questão com mentalidade aberta. Não feche os olhos para o PERIGO .


*A experiência vem demonstrando que há necessidade de um auto diagnóstico específico para cada manifestação da mesma doença!

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

AS VINTE PERGUNTAS DA ADICÇÃO AO JOGO




1. Você já perdeu horas de trabalho ou da escola devido ao jogo?


2. Alguma vez o jogo causou infelicidade na sua vida familiar?


3. O jogo afetou sua reputação?


4. Você já sentiu remorso depois de jogar?


5. Alguma vezvocê jogou para obter dinheiro para pagar dívidas ou então resolver dificuldades financeiras?


6. O jogo causou uma diminuição na sua ambição ou eficiência?


7. Após ter perdido você se sentiu como se necessitasse voltar o mais cedo possível e recuperar suas pedras?


8. Após um ganho você sentiu uma forte vontade de voltar e ganhar mais?


9. Você geralmente joga até que seu último centavo acabasse?


10. Você já pediu dinheiro emprestado para financiar jogo?


11. Alguma vez você vendeu alguma coisa para financiar jogo?


12. Você reluta em usar o "dinheiro de jogo" para as despesas normais?


13. O jogo o tornou descuidado com o seu bem estar e o de sua família?


14. Alguma vez você já jogou por mais tempo do que planejava?


15. Alguma vez você jogou para fugir das preocupações ou problemas?


16. Alguma vez você já cometeu, ou pensou em cometer um ato ilegal para financiar o jogo?


17. O jogo fez com que você tivesse dificuldades para dormir?


18. As discussões, desapontamentos ou frustrações fizeram com que você tivesse vontade de jogoar?


19. Alguma vez você já teve vontade de celebrar alguma boa sorte com horas de jogo?


20. Alguma vez você pensou em se auto destruir como resultado de seu jogo?



A MAIORIA DOS JOGADORES COMPULSIVOS RESPONDERÁ SIM A PELO MENOS SETE DESSAS PERGUNTAS.


quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

OUTRA CHANCE

Companheiro dependente, aceite a minha mão; sou seu amigo, eu o compreendo.


Conheço sua culpa, sua vergonha, seu remorso; carreguei o peso de sua cruz.
Encontrei um amigo que me ofereceu ajuda; ele também sofreu essa doença.
Embora ele não tivesse a cura mágica, mostrou-me como eu poderia resistir.
Conversamos lado a lado; falamos de coisas que precisávamos esconder.
Conversamos sobre as noites em claro e as dívidas, sobre lares desfeitos, mentiras e ameaças.
E assim, meu tão sofrido amigo dependente, por favor, aceite esta mão que lhe estendo.
Aceite uma outra chance em algo novo, é outro dependente que está lhe ajudando.

* Adaptado do livreto de boas vindas dos Jogadores Anônimos

ESPIRITUAL:





29/01
"Você está pronto para mudar as suas idéias e a sua maneira de pensar? Você está preparado para aceitar o novo sem reservas? Algumas almas conseguem ser flexíveis e mudar sem problemas, mas outras sentem dificuldade, e isto acarreta tensão e preocupação em suas vidas. E o que é pior, em alguns casos causa estagnação. Você deve ser corajoso, seguir em frente para o novo, navegando sem medo por mares desconhecidos. Eu estarei guiando você e não permitirei que nada de mal lhe aconteça. Aceite-me como seu guia e companheiro constante. Não lhe foi pedido que navegasse pelas águas desconhecidas sem piloto. Eu Sou seu piloto e jamais o decepcionarei. Confie em Mim plenamente. Se o caminho ficar difícil não fique com medo; se for perigoso, não se preocupe. Eu o guiarei através de tudo. Mas lembre-se: solte as amarras e deixe que Eu o guie, não resista."
* "Abrindo Portas Interiores" - Eileen Caddy
************************************************************************************

A ALEGRIA DE COMPARTILHAR

"Mostrar ao outros que ainda sofrem, como fomos ajustados, é justamente o que hoje nos faz sentir o valor de nossas vidas. Apegue-se a este pensamento: Nas mãos de Deus o passado escuro é a maior riqueza, é a chave para a vida e a alegria dos outros. Com ele você poderá evitar-lhes a morte e a miséria."

Alcoólicos Anônimos

Que dádiva é para mim perceber que todos aqueles anos que pareciam perdidos não foram desperdiçados. As mais degradantes e humilhantes experiências mostram-se como as mais poderosas ferramentas para ajudar outros a se recuperar. Conhecendo as profundezas da vergonha e do desespero, posso alcançá-los com uma mão amável e compassiva, bem como saber que a graça de Deus está disponível para mim.



*Adaptado do livro: Reflexões Diárias – escrito por membros de A.A. para membros de A.A.

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

DEPENDÊNCIA = ADICÇÃO


. RAÍZES = Experiências

. RITUAIS = Forças

. RECUPERAÇÃO = Esperanças



Eu me chamo Anônimo.

Sou um:

. Dependente de drogas;
. Adicto às drogas;
. Dependente químico de substâncias;
. Drogadicto.
. Em recuperação.

Sou um:

. Alcoólatra;
. Alcoolista;
. Alcoólico;
. Etilista;
. Dependente do álcool;
. Adicto ao álcool.
Em recuperação.

Um Dependente Compulsivo:

. De drogas;
. De nicotina;
. De álcool;
. De jogo;
. De trabalho;
. De emoções.
Sou um co-dependente, enfim, sou um Neurótico.
Em recuperação.

Por isso adquiri um estilo de vida:
INÚTIL;
DESTRUTIVO e
INFELIZ.


Em Recuperação readquiri um estilo de vida:

ÚTIL;
CONSTRUTIVO
e FELIZ.


Vivendo um dia de cada vez, já construí milhares de 24 horas de Recuperação.



SOBRE A PALAVRA "ADICÇÃO”:


“O substantivo adicção designa em nossa língua a inclinação ou o apego de alguém por alguma coisa.”
O adjetivo adicto, por sua vez, define a pessoa francamente propensa à prática de alguma coisa-crença, atividade, trabalho ou partidária de determinados princípios.
Por exemplo:
Nos tempos da República Romana, o homem que, para pagar uma dívida, se convertia em escravo por não dispor de outros recursos para cumprir o compromisso contraído.
Addictum era aquele que se assumia como marginal; alguém que, fatal ou voluntariamente, fora jogado numa condição inferior a que tivera até então.O adicto parece, assim, como aquele que perdeu a sua identidade, simultaneamente, adotou uma identidade imprópria como única maneira possível de saldar sua dívida.

UM CONCEITO IMPORTANTE!
“Dependência química é uma doença bio-psico-social ativada por uma predisposição (gatilho que sempre dispara) da pessoa a desenvolver dependências as substâncias psico-ativas que provocam alterações no estado de humor. É uma doença que pode ser reconhecida através de sinais e sintomas específicos, por isso é considerada uma síndrome.”

"ALCOÓLICOS E DROGADOS NÃO SÃO OS ÚNICOS DEPENDENTES DA ADICÇÃO".

Há dezenas de milhares de pessoas que são adictas ao:
. jogo;
. Internet;
. sexo;
. trabalho;
. comida;
. gastos compulsivos;
. tabaco;
. amores exacerbados;
muitos outros,
são 121 tipos de dependências reconhecidos por grupos de auto-ajuda no mundo.


Esses dependentes podem nunca ter usado substâncias químicas alteradoras de humor como parte dos seus rituais para apanhar uma pedra.
* Pedra = objeto da adicção.

O isolamento emocional;
a vergonha;
e o desespero das suas vidas
são testemunhos do poder da adicção.

ADICÇÃO: um amor patológico.

ADICÇÃO: uma relação de confiança com um objeto ou acontecimento.

ADICÇÃO: uma doença:
Multifacetada;
Incurável;
Progressiva;
Alienante
Fatal.
Porém, estacionária.

ADICÇÃO é uma doença:
Física;
Mental;
Emocional;
Social
Espiritual.

* Espiritual é diferente de religioso. Evite preconceituar!

ADICÇÃO

É Uma Doença BIOPSICOSSOCIAL
(OMS - Organização Mundial de Saúde -1964).



Existem inúmeras tentativas e formas que visam descrever a adicção.

Nada completamente definido foi determinado até agora.
É a doença da solidão, da vergonha e do medo.

COM CERTEZA:

ADICÇÃO

. NÃO É FRAQUEZA MORAL;

. NÃO É FALTA DE FORÇA DE VONTADE;

. NÃO É INCAPACIDADE DE ENFRENTAR O MUNDO;

. NÃO É SEM-VERGONHICE.


. OS ADICTOS NÃO SÃO E NEM DEVEM SER JULGADOS CULPADOS, OU ASSIM SE JULGAREM, POR SEREM PORTADORES DESSA DOENÇA.



COM TODA CERTEZA:

Devem se assumir responsáveis, para conseguir se RECUPERAR.

Cuidado!
RECUPERADO é diferente de CURADO.

AGORA A PERGUNTA:

. VOCÊ É ADICTO OU DEPENDENTE POR ALGUM:
. OBJETO,
. ACONTECIMENTO,
. OU PESSOAS?


UMA AFIRMAÇÃO:

ESSA É UMA PERGUNTA QUE SÓ VOCÊ DEVE RESPONDER!


SE VOCÊ FOR UM ADICTO, VOCÊ NÃO ESTÁ SÓ.

. GRUPOS ESPECÍFICOS SOBRE SUA ADICÇÃO PODEM LHE AJUDAR. SÃO GRUPOS DE AJUDA MÚTUA.
.TERAPEUTAS E CLÍNICAS ESPECIALIZADAS SÃO FUNDAMENTAIS, NÃO OS MENOSPREZE.

CARTA DE PAULO AOS CORÍNTIOS


"Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, serei como o bronze que soa, ou como o címbalo que retine.
Ainda que eu tenha o dom de profetizar e conheça todos os mistérios e toda a ciência: ainda que eu tenha tamanha fé, a ponto de transportar montanhas, se não tiver amor, nada serei.
E ainda que eu distribua todos os meus bens entre os pobres e ainda que entregue meu próprio corpo para ser queimado, se não tiver amor, nada disso se aproveitará.
O amor é paciente, é benigno, o amor não arde em ciúmes, não se ufana, não se ensoberbece, não se conduz incovenientemente, não procura seus interesses, não se exaspera, não se ressente do mal; não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade. Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.
O amor jamais acaba. Mas, havendo profecias, desaparecerão; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, passará. Porque em parte conhecemos e em parte profetizamos. Quando porém vier o que é perfeito, o que então é em parte, será aniquilado.
Quando eu era menino, falava como um menino, sentia como menino. Quando cheguei a ser homem, desisti das coisas próprias de menino.
Porque agora vemos como um espelho, obscuramente, e então veremos face a face; agora conheço em parte, e então conhecerei como sou conhecido.
Agora, pois, permanecem a Fé, a Esperança e o Amor. Estes três. Porém o maior deles é o Amor".

ONDAS SAZONAIS

A todos aqueles que são bipolares e
sentem medo.

“A vida vem em ondas, como o mar.”
Vinícius de Morais



Ah!... Foi um remanso. Não, foi uma hecatombe. Sei lá, foi um por que... Ou não. Foi um espaço. Preferiria que fosse um engano.
As palavras voltam e as vidas são um tocar de dedos. Sinto na minha pele, a dor e a felicidade de novo. Vi gente que não conheço jamais conhecerei. Seu choro guarda-se em mim como uma tatuagem indelével, ou uma facada profunda.
Pelos campos, pelas florestas, pelas cidades, pelos descaminhos, eles falam e sei que não conseguirei calá-los, por isso preciso escrever. Para não chorar, para fazer de conta que só existe a fantasia e eu. Anseio por sair da avalanche de portas trancadas e janelas guarnecidas por grades, ainda soa o disciplinado horário de dormir, comer, chorar, surtar. A histeria andando solta pelo jardim enquanto dezenas de cigarros queimam até o filtro e os dedos. Muitos olhos fitam através das coisas e das pessoas, tudo vidro. Por isso preciso reencontrar as raízes como bruxas sortílegas e fincar meu pé no que é verossímil sem ter muita certeza sobre o significado disso.

Revejo os campos destroçados da infância e choro. Sei que não basta embora minha alma mantenha-se tranqüila. Uma tranqüilidade sem movimento, água estagnada.
Entro na velha terra do passado como um forasteiro e me esgueiro pelos montes, pelas chochas colheitas e vejo as mãos de meus pais sangrando. Ouço gritos de guerra jamais executados e me firo na covardia da sobrevivência. Sou como um cão a farejar os despojos e bebo minha própria urina.
Alguma coisa dentro de mim não se mantém inerte, quando estou próximo de comer o incomível, lembro-me de que também sou feito de outras terras e outros mares.
Terras bastardas, sem nenhum laço de nobreza, terras tão virgens quanto é virgem de amor o meu sexo. As paragens de minha adolescência e me lanço a redescobrir.
Meu peito dói como uma chaga e meus pulsos estão seviciados por correntes, mas ainda assim... Se eu não acreditar em ti, Lembrança, em que acreditarei?
Se não construirmos relações de agonia e amor nada teremos. Parece-me ter pensado algo assim.
Mergulho até a morte e renasço de minhas próprias vísceras, abro os olhos e começo a perceber tudo que me cercara e os lugares perdidos onde pernoitei. As palavras são pássaros ardentes no meu peito, voam para todos os lados numa algaravia interminável. Sobrevoam-se e copulam num encontro flutuante e breve, logo tornam ao espaço escuro do meu coração. Eu penso em mim como uma folha morta enquanto encho páginas e mais páginas com palavras-pássaros que tem por ninho a lata de lixo.

Nos intervalos, sento-me a fumar. Eu flutuo.

Às vezes a tristeza da gente é contrita e absoluta como uma prece, sem motivo ou razão, talvez saudades do que não se foi.
O silêncio é soberano e a solidão não é dor, mas companheira. A tristeza não é má, é apenas palpável e presente. Um estado, uma jornada da alma que apenas a paz pode proporcionar sem sofrimento. Não há perdas, não há ganhos, há o que foi e o que é.
A tristeza da consciência de existir abraça a gente como um xale que aquece mornamente as ilusões passadas. Não se revive as batalhas ganhas, nem as perdidas, é um estar acordado dormindo, ou um dormir acordado. Não há lágrimas, ou lamentos, nem o bem, nem o mal. Um poema transita pelos olhos fazendo a antiga nostalgia arder.
Tudo continua acontecendo: os homens sonham, planejam, fornicam e choram, principalmente choram. Aqui não acontece nada, fica-se à margem.
Na tristeza tudo para, nada existe além de um breve latejar, um sussurro, um gemido. Possíveis gritos surdos. O além nos tocando... a tristeza.

Sobreviveremos, sobreviverei, escapou de meus lábios apertados.
O quarto é um abandono. Papéis espalhados pelo chão, alguns respingos de chuva entram pela janela que bate seus postigos amarelos num som monótono e constante, qual lenço acenando adeus.
Sobre a cama, mole e abandonado, deita-se um par de meias enxovalhadas. Na mesinha, ao lado contrário da cama, espalham-se farelos de pão e marcas de muitas xícaras de café. O armário tenta recolher, em vão, suas portas escancaradas, é como uma boca sem dentes assim vazio de roupas. Sob ele um chinelo desbeiçado.
O proprietário deste ambiente que guarda vestígios de loção de barba e desodorante é o pó, abancado sobre os móveis a sorrir inútil posse. Há também um cheiro de urina e cigarro.
Num canto, com as pontas presas através de pedras arredondadas por muita água de rio, morre um mapa-múndi, jogados sobre ele estão dois dados coloridos com seus doze olhos voltados para cima. Ao lado, cartas de Tarô com a Torre a espiar.
Abro a porta, ainda não posso partir. Não importa o que me diga a sorte, também não pretendo abandonar-me no quarto novamente.

Foi de repente, ou de um dia para o outro, que saí da inércia e do desespero de andar em círculos. Quero olhar gente, ruas, árvores. Vou cantando porque a vida é maravilhosa e pressinto que logo estarei apaixonado e o amor será intenso, como eu gosto.
É primavera cá dentro do peito e a vontade de fazer amor sem parar me deixa flexível e arguto. Todos os odores são convites e todas as mulheres são belas. Sinto-me magnífico e forte.
Decido desenvolver projetos que mofam há três meses na gaveta por isso retornei correndo ao quarto.
- Imundo. Como pude estar tão disperso? Minha vida é um brinquedo de parque de diversões, um João-bobo, chega dar náusea o sobe e desce, o vai e vem.
Abro as janelas, ainda bem que faz sol, junto o lixo: destroços do tempo introspectivo.
- Não sou louco, sou ambivalente, a dor profunda é fácil demais, por isso não acontece todos os dias. Basta de dor, toca a viver.
Corro até a esquina e compro flores, quatro ramalhetes de estonteante amarelo girassol, aproveito e trago junto vasos. Muitos. Quem sabe precisarei mais? O colorido faz parte de mim, sem ele não consigo viver. A partir de hoje.
Agarro-me nas paredes porque sinto meu sexo latejando. Ligo para Mariana:
- Querido, que saudades! Que houve contigo? Pensei que tivesse viajado. – A voz dela é gostosa e fico feliz em responder o vago.
- Viajei, estou de volta, vem jantar comigo.
Preciso de um carro, vendi o antigo há poucas semanas. Como posso me locomover sem um? Impossível! Terminarei aquele projeto e vendo e então sei que dá certo preciso ousar um pouco só um pouquinho e fica tudo bem nunca fui acomodado não sei o que me deu essa depressão o mundo só pode passou e também preciso de roupas decentes que as velhas estão de doer e é já.
- Viva o cartão de crédito!
Festejarei o banquete que me é servido. Corro com Mariana a beber todos os vinhos da alegoria do viver. Sei que estou belo e meu riso espalha-se como confete a colorir caras tristes e amarradas que não compreendo muito bem. Vagamente me lembro de ter visto outras assim, mas onde? Não sei, esqueci. Como podem se arrastar em meio a tanto esplendor? Que irritação me provoca esta gente amesquinhada, tenho vontade de dar uns socos e estou de saco cheio de tudo e todos os tristes do mundo. Mariana é a salvação com sua gargalhada alta e solta, com ela encontrarei as velas do meu barco. O amor é delícia na qual me lambuzo.
Idéias magníficas ocorrem-me num carrossel de possibilidades, estou consciente de que é rara tal concentração de energias e vislumbres, devo aproveitar minha criatividade, sei que qualquer coisa que imagine se realizará. Tenho certeza. Largo meus planos para olhar o céu, tem dias em que o azul é mais intenso, hoje é um deles. Hoje todas as cores são intensas.
O telefone. Melhor fixar o céu, telefone dá azar. Não para, uma droga. Sinto fúria. E se for?... Não tem porque, mas é.
- Meu filho, Fabiano... Recebi a fatura do cartão de crédito, compraste um carro. Fabiano, como pudesses fazer isso? E agora, o que faço? Fabiano, não estás bem, te conheço, tens que voltar imediatamente para casa. Fabiano! Alô! Alô?
Como ele consegue adivinhar a hora errada de me procurar? Pego a cadeira e jogo na janela, o barulho de vidro quebrado me dá mais raiva.
- Merda, tinha que quebrar esta merda? Não volto de jeito nenhum, nem manietado. Não respeita minha individualidade, este velho caduco, mas eu mostro a ele. Quero Mariana, só ela me entende, me aceita, me ama. Adoro Mariana. Tomaremos um porre. Comemoração. Dois... Três?

Dois dias depois, meu pai está à minha frente, fala devagar. Os olhos de alfinete perfuram meu cérebro me perguntando coisas idiotas, falam muito mais alto do que suas palavras que mal escuto:
- Porque paraste o remédio, Fabiano? Sabias que viria outra crise, se pelo menos tivesses tomado durante a depressão! Preciso te levar meu filho, não tenho escolha, por mais que para mim também seja terrível.
Levar o cacete! Só morto! Minha fúria é assassina, preciso livrar-me dele, senão voltará milhares de vezes. Estou pensando muito calmamente em como farei isso, é importante pegá-lo desprevenido. Fecho-me no banheiro e corto os pulsos ou enforco-me com a cinta enquanto ele fica aqui esperando? Com a cinta acho boa idéia e uma terrível sensação de inutilidade me domina. Minhas pernas tremem e já acendi quatro cigarros, um no toco do outro. Fumo mais um e digo que vou ao banheiro.
Sinto mãos me segurando pelos ombros e impedindo-me pelos pulsos. Olho meu pai, estranhas lágrimas escorrem por sua cara, balbucia alguma coisa. Seriam desculpas?
É o remanso, a hecatombe, o espaço vazio.
Não é um engano.



Vana Comissoli